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EXIMIR-SE
CULPA NÃO
ABSOLVE
GOVERNO TEMER
Temer
chegou ao Planalto sem votos,
como
solução constitucional para o descalabro.
Tem
diante de si um caos à espera de um gerente.
Ou
mostra serviço ou logo será tão culpado
quanto sua antecessora.
Por Josias
de Souza – 30/09/2016 – 15:40
Dilma
Rousseff deixou para Michel Temer tudo o que tinha: um Estado quebrado,
inflação alta, recessão recorde e desemprego a pino. Nesta sexta-feira, num
evento público, Temer tomou distância da herança. Fez isso, segundo explicou,
para que daqui a dois ou três meses não o acusem de ser o responsável pelo
“passivo”. É sempre bom deixar as coisas mais claras. Entretando, chover no
molhado não resolverá o estrago provocado pela tempestade.
Por
trás do legado maldito “estão homens e mulheres que pagam um preço
inaceitável”, discursou Temer. “Chegamos a quase 12 milhões de desempregados. E
reitero que não foi culpa minha.” Beleza. O problema é que, se Deus tiver que
aparecer para os desempregados, não se atreverá a surgir em outra forma que não
seja a de um contracheque no final do mês. Um presidente que não seja capaz de
apresentar mais soluções do que lamentações se parecerá sempre com um culpado.
É
longa a lista de problema, disse Temer, antes de pintar o quadro com tintas
fortes: ''A crise que enfrentamos é a mais grave da nossa história. Não quero
assustá-los, mas motivá-los para que juntos possamos sair dessa crise. A causa
é basicamente interna e fiscal. O Estado endividou-se muito além de sua
capacidade, e gerou recessão e desemprego.''
No
ano passado, quando a Câmara se preparava para abrir o processo de impeachment
contra Dilma, o Datafolha informou
que 60% dos brasileiros desejavam o impedimento da então presidente petista e
também do seu vice. Depois que a deposição foi confirmada pelo Senado, Temer
não teve os cem dias de tolerância a que todo novo governo tem direito, segundo
uma lei não escrita mas geralmente respeitada na política.
A
deferência da trégua foi negada a Temer por duas razões: 1) seu governo não é
novo. Além de ser sócio do fiasco petista, o PMDB manteve no primeiro escalão o
mesmo centrão partidário que vendeu sua fidelidade a Lula e Dilma nos últimos
13 anos; 2) a herança de Dilma não caiu no colo de Temer por acaso. Cúmplice do
petismo na degradação ética, o PMDB lutou por ela.
Assim,
Temer chegou ao Planalto sem votos, como solução constitucional para o
descalabro. Tem diante de si um caos à espera de um gerente. Ou mostra serviço
ou logo será tão culpado quando sua antecessora.
JOSIAS DE SOUZA É JORNALISTA |
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