POR LÍGIA GUERRA |
A BONEQUINHA
Sábado
de manhã. Dia de Osvaldo cumprir o ritual de sempre: dar um passeio com sua
“bonequinha”, filha única de cinco anos, pelas ruas do bairro. E ele o cumpre
com prazer incalculável – chova ou faça sol. Para na padaria, na mercearia, na
barbearia, no bar, para em tudo que é lugar, puxa conversa com todo mundo, mas
jamais esquenta cadeira. Precisa exibir seu troféu, para o maior número
possível de pessoas.
Osvaldo
está convencido de que não há em toda região criança mais bem produzida que sua
“bonequinha”. Afinal, quantas menininhas de sua idade andam maquiadas, com
beicinhos pintados de vermelho, tatuagens (das que saem com o banho, claro),
roupinha agarrada? Até parece uma mocinha. A menina quer ser atriz. A mando do pai, faz caretinhas sensuais. O povo não se cansa de tecer
elogios à menina, isso na frente deles, filha e pai. Um ou outro faz sinal de reprovação. Pura inveja.
Osvaldo
é obrigado a reconhecer que sua mulher, mãe da “bonequinha”, é muito caprichosa.
Por isso, antes de voltar para casa, compra cervejas e amendoim para comemorar
com Arminda o sucesso que a pequena faz. (OS- janeiro 2016)
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