SPONHOLZ |
LULA SAI DA ELEIÇÃO DE 2016
PELA PORTA DO FUNDO
POR JOSIAS DE SOUZA
UOL - 30/10/2016 - 02:14
No primeiro turno da eleição municipal, Lula votou em São Bernardo
do Campo. Estava acompanhado de sua mulher, Marisa, do prefeito petista Luiz
Marinho e do candidato do PT à prefeitura da cidade, Tarcísio Secoli. Na saída,
Lula fez uma aposta alta: “O PT vai surpreender nesta eleição”. Disse meia
dúzia de palavras sobre a disputa na capital paulista: ''Se o povo de São Paulo
tiver o orgulho que pensa que tem, se tiver a inteligência que pensa que tem,
ele não tem outra coisa a fazer que não seja votar no [Fernando] Haddad''.
Todos já sabiam que o PT estava à beira do abismo. Mas ninguém
poderia supor que o morubixaba da legenda fosse pisar voluntariamente no
sabonete. Em São Bernardo, Secoli não foi para o segundo turno, que será
disputado por dois aliados do tucano Geraldo Alckmin: Orlando Morando (PSDB) e
Alex Manente (PPS). Em São Paulo, sucedeu algo mais dramático. Além de ficar
pelo caminho, Haddad assistiu ao triunfo do tucano João Doria, afilhado de
Alckmin, no primeiro round. Coisa
jamais vista na capital. Nacionalmente, o PT foi dizimado.
Lula ficou numa situação análoga à do apostador que deixa as calças
sobre o pano verde e abandona o salão de jogos sem dinheiro para o ônibus.
Queimaram-se os fusíveis da intuição lendária do grande guia dos povos. Mas
nada é tão ruim que não possa piorar. Lula parece mesmo decidido a provar que é
errando que se aprende… A errar. Resolveu que, neste domingo, não irá votar.
Sua ausência foi confirmada pelo Instituto Lula. Ele acaba de completar 71
anos. E alega que a lei desobriga os septuagenários de votar.
Curioso, muito curioso, curiosíssimo. No primeiro turno, Lula fora
vaiado e aplaudido na sessão eleitoral em que votou. Acionou seus tímpanos
seletivos. ''Eu não ouvi vaias. Era tanto aplauso! É como quando o Corinthians
vai jogar, mesmo sendo no Itaquerão. Tem sempre meia dúzia de torcedores do
outro time. Pergunta se o jogador ouve vaia. Só ouve aplauso.'' Agora, excluído
da partida, age como garoto mimado. Se pudesse, interromperia o jogo, levando a
bola para casa. Por sorte, nas democracias a bola pertence ao eleitor.
Lula gostaria de ser candidato à Presidência em 2018. Mesmo que sua
situação penal o exclua dessa briga, como democrata que diz ser deveria
respeitar a divergência, abstendo-se de desqualificar as opções alheias com
atitudes desnecessárias. Do modo como passou a agir, pode empurrar até as
pessoas que ainda tentam admirá-lo para uma conclusão inexorável: quem acha que
não tem idade para votar já está velho demais para ser votado.
Na fatídica entrevista em que vaticinara o desempenho surpreendente
do PT, Lula desdenhara dos efeitos do petrolão sobre as urnas. Rosnara para a
conjuntura: ''Quanto mais ódio se estimula contra mim, mais amor se cria. “Essa
gente vai se surpreender porque, a partir dessas eleições, eu vou começar a
andar pelo Brasil…” Sem saber como ficará o seu direito de ir e vir depois que
a Lava Jato decidir o seu futuro, Lula faria um bem a si mesmo se andasse do
seu apartamento, em São Bernardo, até sua zona eleitoral. Não resolve o fiasco
do PT. Mas evita o constrangimento de sair da eleição municipal de 2016 pela
porta do fundo.
LAVA JATO ESTILHAÇA
A GALERIA DE PRESIDENCIÁVEIS
SERRA, POR NATHAN |
A Lava Jato já derreteu a presidência de Dilma e o PT. Levou para a
cadeia gente graúda, oligarcas políticos e empresariais. Aos pouquinhos, passo
a posso, a operação vai aproximando a faxina de toda a galeria de
presidenciáveis da República. Há moribundos em excesso no noticiário. E a lista
não para de crescer. Denunciado como beneficiário de repasses ilegais de R$ 23 milhões em 2010, o tucano José
Serra junta-se, no vale dos delatados, ao correligionário Aécio Neves e a Lula.
A última eleição presidencial ocorreu em 2014, ano em que a Lava
Jato começou. Dilma foi reeleita, Aécio virou o principal líder da oposição e
Lula representava o sonho de continuidade do PT. Hoje, o PSDB de Aécio é força
auxiliar do governo do PMDB de Michel Temer, apinhado de alvos da Lava Jato. E
o PT de Lula é uma espécie de abracadabra para a caverna de Ali Babá.
Impossível saber quem chegará vivo a 2018. Aécio é protagonista de
dois inquéritos no Supremo Tribunal Federal. Lula, réu três vezes, é uma prisão
esperando para acontecer. Serra, que fazia pose de alternativa, é outra
biografia sub judice. Geraldo Alckmin
é uma interrogação aguardando na fila pela divulgação do anexo da delação da
Odebrecht que trata dos governadores. A única certeza no momento é que 2018 não
é mais o que já foi. Por sorte, ainda não há no Brasil um Donald Trump. Mas
quem pode garantir que não surgirá um demagogo amalucado? (JS)
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