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ELEIÇÕES
AMERICANAS:
DESENCANTO
COM A POLÍTICA
Fez
sentido ter sido Las Vegas o palco
do
último debate da corrida rumo à Casa Branca
POR RICARDO
BOECHAT
ISTOÉ
DIGITAL
21/10/20016
– 18h
Esta
cidade no meio do nada – onde o mafioso Bugsy Siegel plantou nos anos 40 a
semente do que se transformaria na Meca da jogatina – recebe milhões de
turistas atraídos por suas luzes coloridas, por seus shows inigualáveis e pelo
propósito matematicamente improvável de fazer fortuna nos cassinos. É a
Disneylândia dos adultos, que parecem alimentar-se de fantasia até a exaustão.
A
campanha presidencial na maior potência do mundo viveu o derradeiro embate
entre seus protagonistas deixando como saldo pouco mais do que os caça-níqueis,
aqui presentes até nos banheiros, costumam dar aos apostadores.
Exatamente
como essas maquininhas afrodisíacas, Hillary Clinton e Donald Trump fizeram
disparar a adrenalina dos eleitores – que deverão comparecer em número inédito
às urnas no próximo dia 8 – sem lhes oferecer ganhos palpáveis, pouco além de
ilusões.
Para
um país com os problemas e os desafios dos EUA, a disputa sucessória entre o
aventureiro republicano e a insossa democrata foi predominantemente travada até
aqui, sem perspectiva de mudança, num terreno temático situado entre o umbigo e
o joelho de ambos, passando ao largo de questões como terrorismo, crise migratória,
colapso ambiental, desemprego e estagnação econômica, para ficarmos apenas no
cardápio mais presente nas preocupações planetárias.
Tamanho
erro de foco não pode ter sido apenas obra dos marqueteiros das duas legendas.
Para
analistas como Norman Ornstein, do American Enterprise Institute, o cenário
eleitoral americano de 2016 resulta do crescente desprestígio da política junto
à população, em especial entre os jovens. Esse vazio progressivo fertiliza o
surgimento de franco atiradores como Trump, mais eficazes em seus disparos
quando miram alvos que, como Hillary, são a antítese de qualquer coisa que
lembre renovação. Está posto o terreno ideal à expansão do que chama de
“populismo raivoso”, sem ideologia e adaptável a muitas sociedades.
O
quadro desolador não está restrito à terra do Tio Sam. É global. A política
desta era está tomada pelo bolor.
Há
semanas, palestrando em Curitiba, o ex-senador Pedro Simon pediu à plateia de
estudantes que apontasse na cena brasileira alguma nova liderança emergente.
O
silêncio que se ouviu foi ensurdecedor.
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