O VOTO IMPROVISADO
POR JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO (*)
PORTAL DO ESTADÃO
EM 24/10/2016
Quanto mais distante o eleitor está dos candidatos a prefeito, mais
volátil é a eleição. Quanto mais dependente da televisão é a campanha, maior a
chance de haver mudanças repentinas e decisivas na reta final da corrida
eleitoral. Pesquisa inédita do Ibope, publicada aqui com exclusividade, revela
quando, onde e como o eleitorado brasileiro decide seu voto a prefeito.
De tão repetida, sua curva de intenção de voto está se tornando um
clássico: o líder nas pesquisas começa a cair e, nos últimos dias – às vezes na
véspera da votação -, desaba. Quem pintava como grande favorito no primeiro
turno, vira um terceiro colocado – tudo em questão de horas. Foi assim com
Celso Russomanno em 2012 e 2016, e com Marina Silva em 2014. Por quê?
Um em cada cinco eleitores brasileiros admitiu ao Ibope que escolheu
seu candidato no próprio dia 2 de outubro, ou seja, no dia da eleição. A esses 19% do eleitorado somam-se outros 15% que disseram ter feito a escolha
não muito antes, nos últimos dias antes de irem à urna. Ou seja, pelo menos 1
em cada 3 votos dados no primeiro turno da eleição municipal foi decidido em
cima da hora. É esse terço que
derruba líderes e elege azarões.
Especialmente nas metrópoles. Os eleitores que improvisam o voto são
bem mais do que um terço nas cidades acima de 500 mil habitantes. Lá, somam 45%
– a mesma taxa da média das capitais. É quase metade do eleitorado das
principais cidades do País deixando para decidir em cima da hora em quem vai
votar.
Mas nem todos esses eleitores admitem isso antes de votarem. A taxa
de indecisos nas pesquisas de véspera é muito menor do que esses 45%. O eleitor prefere citar o nome de
um candidato – mesmo que não tenha certeza de que vai votar nele – do que dizer
que está indeciso. É fácil entender sua volubilidade.
No mundo superconectado, há mais informação do que o cérebro é capaz
de processar. O ruído supera o sinal (apud
Nate Silver), e a tentação à dispersão é forte demais para resistir. As
redes sociais digitais demandam que todos tenham opinião sobre tudo, que tomem
partido mesmo sobre temas para os quais dedicaram pouca ou nenhuma atenção. O
processo eleitoral não é exceção.
A uma semana do segundo turno, 24%
dos eleitores de Manaus dizem que ainda podem mudar seu voto. Em Belo
Horizonte, 20%. Já tinha sido assim
no primeiro turno. Mais da metade dos eleitores das maiores metrópoles
brasileiras chegou ao dia de votar com pouco ou nenhum interesse pela eleição,
como as pesquisas do Ibope em cidades como São Paulo e Rio de Janeiro
revelaram.
Não é coincidência que o desinteresse e volatilidade sejam maiores
nas grandes cidades, onde o eleitor está mais distante do candidato e do
governo. Nos municípios menores, onde o eleitor conhece o prefeito pessoalmente
e o trata pelo apelido, 63% dizem
escolher seu candidato logo no início da campanha, ao ficar sabendo quem são os
candidatos.
Há outra diferença importante entre as eleições de prefeito nas
grandes e pequenas cidades. Nas metrópoles e capitais, a principal fonte de
informação para o eleitor escolher seu candidato é a TV: 36% citam-na como maior influenciador do voto.
Nas cidades até 50 mil
habitantes, a TV é secundária. Conversas com parentes e amigos são
protagonistas: 27% dizem que é assim
que escolhem em quem votar, contra 13%
nas cidades grandes. A TV é o principal influenciador para só 19% nas pequenas cidades. Já os debates
entre candidatos têm o dobro do peso nas metrópoles.
A dificuldade de conhecer o candidato de perto, a falta de discussão
sobre política com amigos e parentes e a intermediação da relação com os
representantes pela TV parecem aumentar o desinteresse pelo processo eleitoral
nas maiores cidades brasileiras e, por tabela, a mutabilidade das intenções de
voto. Por isso, são as capitais também do voto improvisado.
JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
é jornalista. Escreve uma coluna semanal sobre política no Estado,
coordena o Estadão Dados e é presidente da Abraji (Associação Brasileira
de Jornalismo Investigativo)
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