SPONHOLZ |
DO PT AO PT DO B
Desde o resultado das urnas o Partido dos Trabalhadores
entrou em estado de liquefação. Enquanto sua cúpula
brinca de avestruz e empurra a crise com a barriga,
a avalanche vai se formando
POR HUBERT ALQUÉRES
No Blog do Noblat
Em 19/10/2016 - 01h25
O ex-presidente Lula não visou o grande público em seu artigo
“Por que querem me condenar”, publicado em jornal de circulação nacional (*). A essa altura do campeonato, o caudilho tem
plena consciência de que suas palavras são inúteis para mudar a convicção dos
brasileiros quanto às suas responsabilidades nos delitos praticados em seu
governo e por seu partido.
Ele usou o jornal para falar com as fileiras internas do Partido dos
Trabalhadores, engalfinhadas em uma guerra intestina; com tudo para desaguar no
desmanche do PT.
Desde o resultado das urnas o Partido dos Trabalhadores entrou em
estado de liquefação. Enquanto sua cúpula brinca de avestruz e empurra a crise
com a barriga, a avalanche vai se formando.
Impossível detê-la com o apelo à unidade, em nome da “defesa de
Lula”, ou com vigílias em frente do prédio onde mora o ex-presidente, para
evitar sua suposta “prisão iminente”.
O real é o ultimato dado por um grupo expressivo de parlamentares
para que até o início de dezembro seja convocado o congresso partidário e para
a antecipação das eleições internas.
Os parlamentares, claro, miram em 2018, sabem ser mínimas suas
chances de reeleição por uma legenda que acabou de ser escorraçada das urnas.
“Sair agora a campo para construir um novo partido
pode ser uma enorme aventura.
Mas ficar no Partido dos Trabalhadores provavelmente
será o caminho mais rápido para a não reeleição”
A pressão por mudanças vem também das tendências mais à esquerda,
que vão direto na jugular de Ruy Falcão, presidente nacional do partido, e de
outros dirigentes vinculados à tendência majoritária “Construindo um Novo
Brasil”.
O PT hoje é uma nau à deriva, na qual sua tripulação, ou parte dela,
se indaga se já não é hora de se jogar no mar e se agarrar em alguma tábua de
salvação.
Essa boia pode ser a proposta de uma “frente ampla”, ou melhor, uma
frente de esquerda, um contorcionismo de petistas para driblar sua crise.
Nada a ver com a “Frente Amplio” do Uruguai, construída por meio de
um longo processo, iniciado em 1971, e no poder há 15 anos. Aqui seria uma
cortina de fumaça onde o PT se esconderia dos eleitores em 2018, face à sua
queimação ampla, geral e irrestrita.
E como se daria essa “frente ampla”? Por meio de uma fusão com
outras legendas? Quem irá querer se fundir com o PT, ou mesmo se coligar com
ele, na próxima disputa presidencial? E
o candidato desta frente, digamos Ciro Gomes, faria a defesa em seu palanque
dos governos Dilma e Lula?
Uma “frente de esquerda” para 2018 é uma ideia natimorta. Todo mundo
quer distância do PT, a começar pelo PSOL, que, bem ou mal, concorde-se ou não
com suas ideias, conquistou um lugar ao sol, sem nenhum trocadilho.
O PSOL aposta na polarização ideológica, em ser o reverso da medalha
do deputado e pré-candidato pelo PSC, Jair Bolsonaro, na próxima disputa
presidencial. Não vai se diluir numa frente.
Mesmo o PDT de Ciro Gomes, um caleidoscópio ideológico, pensará duas
vezes se aceita, ou não, a composição com o PT; se isto agrega votos ou se lhe
condena a uma derrota.
No PT, só há um consenso: o de que não há consensos. Daí cada cabeça
ser uma sentença entre seus parlamentares.
Para uns, a salvação está em criar uma nova legenda, tarefa nada fácil
se o horizonte for ser competitivo nas eleições de 2018.
Sair agora a campo para construir um novo partido pode ser uma
enorme aventura. Mas ficar no Partido dos Trabalhadores provavelmente será o
caminho mais rápido para a não reeleição.
Político que se preza, pensa, antes de tudo, na sua sobrevivência.
Não será diferente com os parlamentares petistas. Provavelmente percorrerão o
caminho mais seguro, a revoada para outras legendas para ter tempo de TV e
acesso ao fundo partidário. Pode até ser uma dessas legendas de aluguel
disponíveis no mercado.
Quem diria, o desmanche do PT pode escoar no PT do B. Vá explicar
para os eleitores que são coisas diferentes...
PARA LER O ARTIGO DE LULA, CLIQUE NO LINK ABAIXO:
IMAGEM GOOGLE |
Hubert Alquéres é
professor e membro do Conselho Estadual de Educação (SP). Lecionou na Escola
Politécnica da USP e no Colégio Bandeirantes e foi secretário-adjunto de
Educação do Governo do Estado de São Paulo
Nenhum comentário:
Postar um comentário