FOTO: RENATO MOURA |
O ANEL
DE CABRAL E O TELEFÉRICO
POR
ELIO GASPARI
PUBLICADO
EM “O GLOBO”
EM
23/10/2016
A
ruína do Rio de Janeiro deveria colocar o governo federal em estado de alerta.
A cidade vive o colapso de seu aparelho de Segurança e do sistema público de
Saúde. Só um milagre fiscal permitirá o pagamento do 13º salário aos
servidores, e há escolas fechadas, hospitais mutilados e delegacias sem luz
elétrica. O teleférico do Alemão está parado. Era o símbolo do Brasil de Lula e
da gestão modernizadora de Sérgio Cabral.
As
barcas cortaram viagens e a plutocracia dos ônibus não paga as multas que
recebe. No meio desse caos, o empreiteiro Fernando Cavendish, queridinho do
governo do estado e da prefeitura, contou que em 2009 pagou o equivalente a R$ 800 mil na joalheria Van Cleef de
Mônaco para enfeitar Madame Sérgio Cabral (Madame Eduardo Cunha comprava seus
enfeites na Tiffany de Nova York).
O
Rio sofre os efeitos de pelo menos cinco pragas. Os dois governos de Sérgio
Cabral e a chegada de Pezão. O PMDB do Rio de Janeiro, partido de Cabral,
Pezão, do prefeito Eduardo Paes, do deputado Jorge Picciani e de seu filho
Leonardo, ministro de Michel Temer. Todos foram fiéis aliados de Eduardo Cunha.
A gastança irresponsável e clientelista que expandiu em 50% as despesas com servidores em apenas cinco anos.
Gastaram
o que não tinham e venderam a doce ilusão da Olimpíada do Rio. Da sua pira
haveria de sair a candidatura de Eduardo Paes a governador ou, quem sabe,
presidente da República. A roubalheira nas licitações de obras públicas foi
tamanha que só em 2011, dois anos depois da compra do mimo para Madame Cabral,
a Delta de Fernando Cavendish ganhou R$
137 milhões em obras, sem o estorvo das licitações. Sua carteira de
negócios com o governo ia a R$ 1 bilhão.
A
quinta praga chamou-se privataria. Cabral e Paes venderam a ideia de que uma
nova forma de gestão mudaria a cara do Rio. Transferiram serviços públicos para
empresas privadas. A opera- ção do teleférico do Alemão ficou com a Odebrecht e
acabou na empresa do filho do presidente do Tribunal de Contas da União.
Privatizações não levam necessariamente a desastres, mas a gestão privatista do
PMDB do Rio não podia acabar em outra coisa.
Da
Praça do Cassino, onde fica a Van Cleef de Monte Carlo, à Praça das Nações, em
Bonsucesso, onde fica a estação de partida do teleférico do Alemão, viaja-se
num bondinho que mostra a mistificação e as roubalheiras que infelicitam a
cidade.
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