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PT SAUDAÇÕES
Derrota do partido é tão avassaladora que não permite
nenhuma leitura atenuante
POR VERA MAGALHÃES
PORTAL DO ESTADÃO
31/10/ 2016 | 03h00
Se alguém ainda acreditava na possibilidade de Luiz Inácio Lula da
Silva ser candidato novamente à Presidência da República em 2018, mesmo depois
da Lava Jato e do impeachment de Dilma Rousseff, o eleitor brasileiro tratou de
dizer de forma clara e cristalina: não vai acontecer.
A derrota do PT é tão avassaladora que não permite nenhuma leitura
atenuante. Não se salvou nada nem ninguém no partido. Mesmo o rosário da
renovação da sigla, que começou a ser desfiado por Tarso Genro e outros, não
sobrevive a uma constatação dura: não há candidatos aptos à tarefa.
O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, citado como opção na terra
de cegos que virou o partido, não quer assumir a missão nem seria um nome com
trânsito suficiente para desbancar os caciques de sempre e enterrar de vez o
lulismo – do qual, diga-se, foi um dos últimos produtos exitosos.
Sim, porque a única remota chance de o PT se reerguer seria enterrar
o lulismo, mas o partido há muito tempo fez a opção oposta, a de se enterrar se
for preciso para defender Lula, em uma simbiose que as urnas acabam de rechaçar
de maneira fragorosa.
Tanto que o partido não consegue pensar em uma alternativa para 2018
que não seja seu “comandante máximo”, para usar a designação que a Lava Jato
deu ao ex-presidente.
A insistência na tese de que Lula é vítima de perseguição – com
lances patéticos como queixa à ONU e manifestações internacionais bancadas por
“sindicatos” que nada mais são que versões da CUT para gringo ver – mostra que
o PT decidiu atrelar seu destino ao do ex-presidente.
Dilma já parece ter sido esquecida pelos petistas na mesma
velocidade com que o foi pelos brasileiros. Tanto que, com exceção de Jandira
Feghali, ninguém se lembrou dela nas eleições municipais.
A presidente cassada tem sido vista fazendo compras tranquilamente
no Rio, em um sinal inequívoco de que o discurso de que houve um golpe era uma
fantasia, a única saída para um partido que perdeu o poder porque já não tinha
condições de governar nem apoio popular, como o resultado das eleições tratou
de deixar evidente.
É essa reflexão que o PT terá de fazer se quiser se refundar. Isso
pressupõe admitir que patrocinou um esquema de corrupção cuja dimensão ainda
está por ser inteiramente conhecida. Admitir que levou a economia do País à
maior recessão da história. Que perdeu a governabilidade antes de Dilma perder
a cadeira. E que Lula não é uma vítima de uma perseguição implacável que
envolve Judiciário, imprensa, Ministério Público e sabe-se lá mais quem.
Quais as chances de o partido fazer isso seriamente? Remotas, para
não dizer inexistentes.
VERA MAGALHÃES É JORNALISTA (ARQUIVO GOOGLE) |
Do outro lado do pêndulo político, o PSDB sai do pleito municipal
como o grande vencedor mais por memória do eleitorado de décadas de polarização
com o PT do que por força própria. Mas o fim dessa alternância, pelo simples
fato de que um dos polos se esfacelou, também obrigará os tucanos a reverem sua
estratégia para voltar a ter chance de governar o País.
Isso significa trocar as disputas de bastidores entre caciques para
ver quem será o candidato da vez, uma constante desde a sucessão de Fernando
Henrique Cardoso, por alguma nitidez programática capaz de mostrar ao
eleitorado que o partido tem um projeto para tirar o País do buraco.
A pulverização de votos por uma miríade de siglas mostra que o
eleitor, embora ainda enxergue no PSDB e PMDB as alternativas mais seguras à
ruína petista, começa a procurar opções.
A negação da política é uma das marcas indeléveis de 2016. O único
político de expressão nacional que saiu vitorioso, Geraldo Alckmin, acertou ao
perceber o Zeitgeist e apostar em um candidato em São Paulo com o discurso da
não política. Em escala nacional, no entanto, o País já viu o estrago que a
eleição de um outsider pode provocar. Com Fernando Collor, antes. E com Dilma
depois.
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