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MANOEL POR
MANOEL (2/2)
Acho
que o quintal onde a gente brincou é maior do que a cidade. A gente só descobre
isso depois de grande. A gente descobre que o tamanho das coisas há de ser
medido pela intimidade que temos com as coisas. Há de ser como acontece com o
amor. Assim, as pedrinhas do nosso quintal são sempre maiores do que as outras
pedras do mundo. Justo pelo motivo da intimidade.
Mas
o que eu queria dizer sobre o nosso quintal é outra coisa. Aquilo que a negra
Pombada, remanescente de escravos do Recife, nos contava. Pombada contava aos
meninos de Corumbá sobre achadouros. Que eram buracos que os holandeses, na
fuga apressada do Brasil, faziam nos seus quintais para esconder suas moedas de
ouro, dentro de baús de couro. Os baús ficavam cheios de moedas dentro daqueles
buracos.
Mas
eu estava a pensar em achadouros de infâncias. Se a gente cavar um buraco ao pé
da goiabeira do quintal, lá estará um guri ensaiando subir na goiabeira. Se a
gente cavar um buraco ao pé do galinheiro, lá estará um guri tentando agarrar
no rabo de uma lagartixa.
Sou
hoje um caçador de achadouros de infância. Vou meio dementado e enxada às
costas a cavar no meu quintal vestígios dos meninos que fomos. Hoje encontrei
um baú cheio de punhetas.
(De Memórias
Inventadas – As Infâncias de Manoel de Barros)
http://orlandosilveira1956.blogspot.com.br/2016/10/cha-das-cinco-manoel-de-barros_28.html#comment-form
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MAS NÃO CUSTA TENTAR
O FILHO DAS P... NA FALTA DE UMA, TEVE DUAS.
POR ORLANDO SILVEIRA
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