segunda-feira, 31 de outubro de 2016

PALAVRAS & EXPRESSÕES


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DE ONDE VÊM AS PALAVRAS:
NÓ GÓRDIO

POR DEONÍSIO DA SILVA (*)

Blog do Augusto Nunes
EM 30/10/2016

Deu um nó nos três poderes referenciais da República. Executivo, Judiciário e Legislativo parecem de repente amarrados uns aos outros, e não independentes. Mas será um nó górdio?

Ao signatário cabe apenas lembrar a origem das duas frases tão célebres: DAR UM NÓ e NÓ GÓRDIO.  Acerca de sua significação política atual, o titular da coluna, o jornalista Augusto Nunes, desceu, como sempre, o seu “claro raio ordenador”.

A primeira frase, DEU UM NÓ, procede de Portugal e da Índia, que tiveram laços perigosos durante muito tempo. Na terrinha, dar um nó era casar. E, como os vínculos do matrimônio católico, além de indissolúveis, eram e são perpétuos, quando se dizia que alguém tinha dado um nó, era indicação de que tinha casado.

Na Índia não era metafórico, era literal. Era costume dar um nó na cauda das roupas da noiva e do noivo. Passou depois a indicar situação complicada, mas ainda como casar aparece em As variedades de Proteu, de Antonio José da Silva, o Judeu (1705-1739), escritor brasileiro de apenas 34 anos, executado em Lisboa no garrote vil e depois queimado, enquanto a algumas quadras dali estava em cartaz uma peça de sua autoria. O trecho diz: “E antes te aperte o nó do Himeneu/ do que na garganta te aperte outro nó”. Ele teve premonição da tragédia que o vitimou! Deu um nó na garganta e não foi metafórico, foi literal.

Já a expressão NÓ GÓRDIO designa extraordinária dificuldade em determinada questão. Define o cerne de um assunto complicado, como é o caso. A história desta frase remonta aos tempos de Alexandre, o Grande (356-323 a.C.), senhor de um império que incluía quase o mundo inteiro.

De acordo com a lenda, quem desatasse o nó que atava a canga ao cabeçalho do carro feito por um camponês frígio, dominaria o Oriente. O carro estava no templo de Zeus, na Frígia, região onde hoje está a Turquia.

Do nó, feito com perfeição, não se viam as pontas. Alexandre tentou desamarrar e, não conseguindo, cortou-o com a espada. E desde então este gesto tem servido de metáfora para designar ações ousadas com o fim de resolver problemas.

Não chamem políticos supersticiosos para a tarefa. Tancredo Neves, quando viajava pela Índia, ao receber de presente um elefante de jade, ouviu o conselho de desfazer-se da oferenda porque o bicho estava com a tromba virada para baixo e isso dava azar. Ele, sem que o indigitado transeunte entendesse o gesto, deu a estatueta ao primeiro que encontrou.

Todos sabem o que lhe aconteceu: morreu na véspera de assumir a presidência da República. E foi substituído pelo vice, José Sarney, conhecido também por “madre superiora”, autor do romance O dono do mar, entre outros livros, mas cujo título completo, se fosse autobiografia, deveria ser O dono do Maranhão. É que, segundo o humorista José Simão, faltou espaço para a palavra completa na capa.

Os políticos nos divertem, “um divertido horror”, como diria Nelson Rodrigues, mas às vezes nos assustam muito. Foi o que aconteceu na semana passada. Alguns deles nos divertiram, mas outros nos assustaram muito.

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Deonísio da Silva é professor, 
escritor e etimologista

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