FOTO: DIVULGAÇÃO/SENADO |
RENAN ESPERNEIA À MEDIDA QUE
O CERCO SE FECHA EM TORNO DELE
Do alto da indignação estudada, Renan sapecou:
“Tenho ódio e nojo a métodos fascistas”
POR RICARDO NOBLAT
BLOG DO NOBLAT
EM 25/10/2016 - 03h52
Nada de desabafo espontâneo. Nem de afirmações provocadas no calor
da hora por perguntas embaraçosas que o surpreenderam.
Por sinal, foram poucas as perguntas no ato que Renan Calheiros
(PMDB-AL), presidente do Senado, batizou de entrevista coletiva.
Convocados os jornalistas ao seu gabinete, Renan ditou declarações
com base em um documento que consultou todo o tempo.
Então chamou o ministro Alexandre Moraes, da Justiça, de “chefete de
polícia” e de “ministro circunstancial”.
Chamou de “juizeco” o juiz de primeira instância que autorizou a
prisão de agentes da Polícia do Senado na última sexta-feira.
Disse que a Polícia Federal valeu-se de “métodos fascistas” para
invadir o Senado e cumprir a decisão do “juizeco”.
Lamentou que tal coisa tivesse acontecido, “um espetáculo inusitado
que nem a ditadura [militar de 64] ousou fazer”.
Anunciou que entrará, hoje, no Supremo Tribunal Federal (STF) com
uma ação para defender as prerrogativas da Polícia Legislativa.
E, por fim, do alto da indignação estudada, sapecou: “Tenho ódio e
nojo a métodos fascistas”.
Plagiou a célebre frase de Ulysses Guimarães dita na sessão de
promulgação da Constituição de 1988:
- Eu tenho ódio e nojo à ditadura.
O desempenho de Renan não traiu a revolta do presidente de uma
instituição que se sentiu ultrajada. Não.
Até ontem, pelo menos, apenas dois senadores reclamaram da prisão
dos agentes da Polícia do Senado. Os demais silenciaram.
O desempenho de Renan traiu o seu próprio medo de, em breve,
tornar-se a bola da vez do Judiciário.
A situação dele, ali, só piora. Renan responde a oito processos no
STF. O mais antigo foi finalmente liberado para ser julgado.
Seis processos têm a ver com a roubalheira na Petrobras que o
beneficiou, segundo denúncia da Procuradoria Geral da República.
A prisão de agentes da Polícia do Senado poderá envolvê-lo em mais
um rolo: o de tentar proteger colegas encrencados com a Lava Jato.
Foi Renan que autorizou a Polícia do Senado a fazer varreduras em
gabinetes e casas de senadores visitadas pela Polícia Federal.
A Polícia do Senado foi até lá à procura de equipamentos de escuta
eventualmente plantados pelos agentes federais. Não encontrou.
Renan ameaça pôr em votação no Senado um conjunto de medidas que
limitem a ação da Polícia Federal e do Ministério Público.
Por suposto, advoga em causa própria.
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