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ENTRE
O SILÊNCIO DE QUEM BUSCA
PROTEÇÃO
E A CONFISSÃO PLENA
DE
QUEM PRETENDE REDUZIR DANOS
Ou Cunha
entrega o que procuradores da República chamam
de
“planta da fábrica” ou mofará na cadeia. Por “planta da fábrica”,
entenda-se:
o relato mais completo possível
sobre
a corrupção no meio político
POR
RICARDO NOBLAT
20/10/2016
- 08h04
Repentinamente,
uma pesada cortina de silêncio desceu, ontem à tarde, sobre a Esplanada dos
Ministérios e a Praça dos Três Poderes, em Brasília, tão logo começou a
circular a notícia da prisão do ex-deputado Eduardo Cunha.
A
Câmara dos Deputados suspendeu suas atividades por algumas horas. Restaurantes
que até aquele momento abrigavam políticos e lobistas ficaram vazios. E os
ministros com gabinetes no Palácio do Planalto deixaram de atender telefonemas
de jornalistas.
Aquele
pedaço da cidade parecia ter sido abduzido do resto da Brasília que continuava
viva, pulsante, entregue à rotina de sempre, e a poucas horas da queda de um
temporal que a aliviaria da secura desta época, mas inundaria vias e
atrapalharia o trânsito.
Sempre
que a Lava Jato captura algum notável, os líderes de partidos acionam suas
assessorias para soltar notas oficiais a respeito. Há mais gente querendo falar
do que jornalistas dispostos ou interessados em ouvi-la.
As
declarações são para lá de previsíveis, mas as conversas mediante o compromisso
de não revelar a identidade dos interlocutores costumam render informações por
vezes preciosas, permitindo a quem queira especular sobre o futuro e suas
consequências.
Nada
disso aconteceu – nem mesmo depois que o jato da Polícia Federal decolou para
Curitiba no meio da tarde levando Cunha e seus acompanhantes. Era pedra cantada
que Cunha seria preso mais dia, menos dia. Ele estava de mala pronta.
O
que ninguém se arrisca por ora a prever – e o que muitos tanto receiam – é como
ele se comportará depois que a ficha cair. “Não tenho o que delatar porque não
sou um criminoso”, disse e repetiu Cunha desde que teve o mandato cassado há um
mês.
Mas
o livro que começara a escrever seria uma espécie de delação prévia. As
circunstâncias mudaram. Cunha avaliará se o melhor para ele será o silêncio de
quem busca ainda algum tipo de proteção ou a confissão desbragada de quem
pretende apenas reduzir danos.
RICARDO NOBLAT É JORNALISTA |
SERVIÇO COMPLETO
Não
basta que Eduardo Cunha decida falar para que sua delação seja aceita. A Lava
Jato está disposta a cobrar caro para ouvi-lo e – quem sabe? – abrandar sua
condenação.
Ou
ele entrega o que procuradores da República chamam de “planta da fábrica” ou
mofará na cadeia. Por “planta da fábrica”, entenda-se: o relato mais completo
possível sobre a corrupção no meio político. (RN)
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