FOTO: UOL/EDUCAÇÃO |
A
LEI GERAL DOS PROTESTOS DE ESTUDANTES
Quanto
mais sensatas forem as leis e as mudanças propostas
pelo
governo, mais estudantes protestarão contra elas
POR
LEANDRO NARLOCH (*)
VEJA.ABRIL.COM.BR
26/10/2016
às 13:38
Dada
a recente onda de passeatas e invasões a escolas, temos material suficiente
para formular um tratado – a Lei Geral dos Protestos de Estudantes. O enunciado
é simples:
Os protestos estudantis são
diretamente proporcionais à sensatez do tema em questão. Quanto mais sensatas
forem as leis e as mudanças propostas pelo governo, mais estudantes protestarão
contra elas.
Leitor,
essa lei é pobre e simplória, mas tem uma capacidade riquíssima de explicar o
noticiário brasileiro. Veja a reforma do Ensino Médio preparada por Dilma e
proposta por Temer. Não há notícia melhor para os adolescentes. Eles agora
poderão escolher ter menos aulas de química orgânica ou sociologia e mais aulas
de inglês ou matemática.
Para
os invasores das escolas, a reforma é de uma sensatez insuportável. “Química
orgânica é essencial à cidadania”, devem dizer os invasores paranaenses quando
não matam os colegas. “Como preparar a revolução se não sabemos o que é uma
função nitrogenada?”
No
Paraná e em outros estados, estudantes também protestam contra a PEC 241. Que é
simplesmente a coisa mais sensata que houve nesta década.
Qualquer
pessoa que não seja um completo analfabeto em economia, qualquer um que não
seja adepto de uma seita obscurantista, enfim, qualquer pessoa que entenda de
política um pouco mais que o Gregorio Duvivier sabe que o maior risco dos
governos é aloprar nos gastos. Políticos gostam de garantir a alegria do povo
do curto prazo e empurrar a crise para os próximos mandatos. Por isso uns
trinta países civilizados criaram leis como a PEC 241, entre eles Holanda,
Bélgica e Austrália. Mas alguns estudantes, enojados com a coerência da PEC,
correram apavorados protestar contra ela na Paulista e nas escolas.
Há
exemplos para todo lado. No ano passado, Alckmin tentou remanejar vagas nas
escolas estaduais, seguindo uma tendência de todo lugar em que o número de alunos,
por causa da menor fecundidade, está caindo. Os estudantes viram ali o ideal da
revolução, um motivo para levar bomba da polícia e escapar da monotonia deprê
dos tempos de paz.
Voltem
duas décadas e a Lei Geral dos Protestos de Estudantes continua em pé. Falo por
experiência própria. Lá por 1997, eu participava do grêmio do CEFET-PR, onde
estudava mecânica, e o ministro Paulo Renato decidiu mexer no currículo das
escolas técnicas.
Muita
gente ocupava uma vaga mais cara do ensino técnico para depois virar filósofo,
gerente de banco ou jornalista metido a historiador. Por isso o ministério
decidiu separar o ensino tradicional do técnico. Os três primeiros anos seriam
para Ensino Médio regular e o quarto ano concentraria o ensino
profissionalizante. Era uma ideia sensata. Era uma ideia que fazia todo
sentido. Bastava somar dois mais dois para concordar com ela. Justamente por
isso protestávamos.
FOTO: VEJA/ABRIL |
Mas
é verdade que, em certas condições de temperatura e pressão, a Lei dos
Protestos dos Estudantes não funciona. Se o governo que propõe a medida está
alinhado aos sindicatos de professores, a reação não se forma, e os protestos
não aparecem. Nesse caso, não há sensatez ou maluquice capaz de revoltar os
estudantes conduzidos pela esquerda.
(*)
Jornalista, foi editor da revista Superinteressante
e repórter de ciência de Veja.
Escreveu o Guia Politicamente Incorreto
da História do Brasil, entre outros. É mestre em filosofia pela
Universidade de Londres.
Nenhum comentário:
Postar um comentário