QUADRO: EDWARD HOPPER |
DIA DOS PAIS
Domingão, segundo de agosto. Osório levantou cedo. Fez suas
necessidades, banhou-se, aparou com esmero a barba desde sempre mal feita. Deu
de ombros para Jurema. Foi comprar tortas de morango. Quantas? Duas, três,
quantas tortas? Mais de três não dava, embora a prole fosse imensa. Osório
voltou para casa com quatro tortas. Jurema implicou. Os filhos nunca ligaram
para esse negócio de datas, dia disso, dia daquilo. Tudo bobagem. Além disso,
tinham que visitar os sogros – os pais das noras e genros. Gasto inútil, o de Osório.
Não viria ninguém. São todos muito ocupados. Gasto desnecessário, esse. Mais
uma vez, Osório deu de ombros. Paciência. Cartão de crédito tem de ter alguma
serventia. Filhos e netos sempre em primeiro lugar. Diabética, Jurema resmungou
um “não foi por falta de aviso” e caiu de colher na gelatina diet. E foi dormir. Lá pelas
onze da noite, tortas intactas, o telefone tocou. Ufa! Ao menos isso: um
telefonema. Era Isaura, a filha caçula. Queria saber se Osório tinha 500 contos
para lhe emprestar.
PARABÉNS A VOCÊ
Tomou um banho bem tomado, lambuzou-se de cremes diversos, pintou os
beiços de cor de chocolate. Colocou o melhor vestido que tinha, fez as unhas das
mãos e dos pés. Depois, ligou para a floricultura, encomendou seis buquês de
rosas de cores variadas. Ditou o que deveria estar escrito nos cartões, todos
anônimos e levemente eróticos. Acionou a única amiga que tinha – antiga
vizinha, velha colega de trabalho. Pediu sua ajuda. Gostaria muito de receber
telefonemas e e-mails nesta data querida. (A amiga não lhe faltou.) Comprou o
melhor bolo da padaria. Não descuidou das velas. Avisou mamãe que o dia seria
agitado. O telefone tocou inúmeras vezes, para a irritação da cadelinha de estimação. Mensagens eletrônicas também chegaram, junto com o
bolo da padaria e as flores. Foi o aniversário mais feliz de sua vida.
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