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TEMER
ALISTA SEU GOVERNO
NA
INFANTARIA DE RENAN
Não
há governabilidade que justifique o erro político
de reforçar a impressão de que Renan manda
porque pode
e o presidente da República obedece porque tem
juízo.
Dilma
Rousseff mantinha com Lula um relacionamento
do
mesmo tipo. Deu em Michel Temer
POR
JOSIAS DE SOUZA
UOL
23/10/2016,
ÀS 05H06
JOSIAS DE SOUZA É JORNALISTA |
Às
favas a lógica com o caso da Polícia Legislativa do Senado. Sob Renan
Calheiros, montou-se nos porões do Poder Legislativo um departamento de
bisbilhotagem. Com verba pública, adquiriram-se equipamentos de inteligência
capazes de fazer e desfazer grampos e escutas ambientais. Às custas do
contribuinte, policiais legislativos foram mobilizados para proteger senadores
suspeitos de assaltar o Estado. Realizaram-se varreduras de escutas em
gabinetes, residências funcionais e imóveis particulares — em Brasília e
alhures. E Renan, em vez de ficar constrangido, está irritado.
Pilhado
numa investigação de mostruário — nascida de uma delação, executada pela
Polícia Federal, sob supervisão do Ministério Público Federal e com a anuência
do Poder Judiciário —, o Senado reagiu com uma nota oficial assinada por seu
presidente. Nela, Renan Calheiros defende as ações de quatro policiais
legislativos presos e demarca o seu terreno: “As instituições, assim como o
Senado Federal, devem guardar os limites de suas atribuições legais.” Beleza.
Mas faltou responder: quem zelará pelo interesse público quando o Senado for
utilizado como biombo para ilegalidades?
Depois
de emitir a nota, Renan dedicou-se a uma de suas especialidades: a retaliação.
Borrifou ameaças no ar. Fez saber ao Planalto que não gostou da entrevista na
qual o ministro Alexandre Moraes (Justiça) justificou a operação montada para
deter as extrapolações dos policiais legislativos. E voltou a brandir o projeto
que pune os chamados abusos de autoridade. Renan faz dessa proposta uma espécie
de espada multiuso. Ora espeta os procuradores da força-tarefa da Lava Jato ora
cutuca Sergio Moro. Revela-se capaz de tudo, menos de um autoexame que o faça
enxergar seus próprios abusos.
“O
Planalto reforça seu alinhamento com Renan num instante
em
que a Lava Jato arromba o principal armário do imperador
de
Alagoas: a Transpetro”
De
repente, numa subversão da lógica, o Planalto deflagrou uma articulação para
acalmar Renan. Coordenador político do governo, o ministro Geddel Vieira Lima
tocou o telefone para o senador. O próprio Michel Temer adulou Renan com um
telefonema. Antes, enquadrou o ministro da Justiça, convocando-o em pleno
sábado para prestar informações sobre a operação em que a Polícia Federal,
munida de cinco mandados judiciais de busca e apreensão e quatro ordens de
prisão, recolheu equipamentos de espionagem do Senado e prendeu quatro
policiais legislativos, entre eles o diretor da Polícia do Senado, Paulo Ivo
Bosco Silva, homem de confiança de Renan.
Num
par de telefonemas, o governo Michel Temer atravessou a Praça dos Três Poderes
para se alistar na infantaria que, sob Renan Calheiros, é acusada de obstruir
investigações que alvejam personagens como Fernando Collor, José Sarney, Edison
Lobão Filho e Gleisi Hoffmann. O Planalto reforça seu alinhamento com Renan num
instante em que a Lava Jato arromba o principal armário do imperador de
Alagoas: a Transpetro.
O
delator Felipe Rocha Parente, que se apresenta como entregador de propinas,
revela aos investigadores os caminhos que a verba suja percorreu para migrar da
subsidiária da Petrobras para os bolsos de pajés do PMDB. Estima-se que
escoaram por esse duto pelo menos R$ 100
milhões em 12 anos. Desse total, Renam apropriou-se R$ 32 milhões, informou outro delator, o ex-presidente da
Transpetro Sérgio Machado.
Compreende-se
a irritação de Renan. Ele tem 32 milhões
de motivos para espumar de raiva. Quem conhece o senador sabe: é nos instantes
em que está for a de si que ele mostra o que tem por dentro. O que parece
incompreensível é o esforço que o governo empreende para demonstrar que é parte
do problema. Não há governabilidade que justifique o erro político de reforçar
a impressão de que Renan manda porque pode e o presidente da República obedece
porque tem juízo. Dilma Rousseff mantinha com Lula um relacionamento do mesmo
tipo. Deu em Michel Temer.
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