domingo, 2 de outubro de 2016

POLÍTICA/OPINIÃO: RICARDO BOECHAT


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RICARDO BOECHAT É JORNALISTA (GOOGLE)



DEMOCRACIA SEM BALA

Pela primeira vez de forma tão ostensiva, quadrilhas de perfis diversos atuaram numa campanha com o objetivo de formar bancadas próprias

Por Ricardo Boechat
Site Isto É – 30/09/2016

Há um fenômeno novo no panorama político brasileiro. Ele se expôs em dimensão inédita na temporada eleitoral que termina neste domingo – na grande maioria das cidades, e terá prosseguimento em outras, onde vai haver segundo turno – com a definição dos vitoriosos entre os mais de 450 mil postulantes a mandatos de prefeito e vereador.

Essa novidade passa ao largo do campo ideológico, programático ou partidário. Não inspira debates, nem almeja conquistar mentes. Seu combustível é o medo. Pela primeira vez de forma tão ostensiva, quadrilhas de perfis diversos atuaram numa campanha com o objetivo de formar bancadas próprias.

Segundo o site “Congresso em Foco”, apenas em agosto e setembro, 20 candidatos foram assassinados em diversas cidades. Só no Rio de Janeiro, em um ano, a polícia contabilizou 16 mortos, enquanto o jornal “O Estado de S. Paulo” identificou 96 vítimas nos nove primeiros meses de 2016, numa lista que inclui, também, cabos eleitorais e assessores diversos.

É fato que a cada dois anos o caminho para as urnas contabiliza atentados aqui e ali. São muitos os registros do gênero na história das eleições, mas o combustível predominante da carnificina sempre foi a rivalidade política entre concorrentes.

O que distingue o cenário atual dos anteriores, além do elevado número de vítimas, é o aumento das ocorrências nos grandes centros urbanos (o interior sempre predominou nas estatísticas) e a natureza dos ataques. Tudo indica que não estamos diante de um agravamento da “clássica” violência eleitoral, mas de claros sinais indicando que o crime organizado acionou seu poder de fogo para inserir-se no campo formal da política, abocanhando fatias da representação parlamentar e do comando da máquina pública. Muitos países já enfrentam essa ameaça e todos pagaram caro, especialmente os que ainda lutam para derrotá-la.

Um erro comum, que encareceu esse preço coletivo, foi menosprezar o risco da situação.

Embora representem gigantesco desafio para a sociedade, as variadas delinquências que convivem com a política no Brasil podem ser derrotada “por dentro” da própria política, através da lenta, mas eficaz, depuração eleitoral e do aprimoramento das leis.

Já a estreia do crime organizado nesse ambiente, com suas escalas e métodos, projeta outro horizonte, ainda estranho a nós, mas, sem dúvida, muito mais difícil de enfrentar.

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