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A
APOSTA NO CAOS
Do
ponto de vista da ação estratégica, o aparelhamento
da sociedade
civil vale muito mais que um punhado
de
vereadores e prefeitos, ainda que de cidades importantes
Por
Ruy Fabiano
Blog
do Noblat – 01/10/2016 - 01h20
As
eleições municipais deste domingo devem confirmar o declínio dos candidatos de
esquerda, em especial os do PT, nas cidades mais importantes do país. Os
motivos são óbvios e estão capitulados nas (até aqui) 35 fases da operação Lava
Jato.
Isso,
porém, não atenuará – muito pelo contrário - a ação predatória dos grupos
organizados, que se abrigam sob o guarda-chuva protetor dessas legendas, contra
o governo Temer.
Despojado
dos meios institucionais, resta a batalha campal, em que são especialistas. O
PT perde nas urnas, mas mantém seus feudos estratégicos na máquina pública,
estruturados em quase 14 anos de reinado, nas três esferas federativas,
fornidos com a grana grossa (e põe grossa nisso) da corrupção.
O
partido, além de aparelhar o Estado, patrocinou a construção de uma gigantesca
máquina sindical e estabeleceu sua hegemonia nas universidades, na mídia e nos
meios artístico e intelectual. Em síntese, aparelhou a sociedade civil.
Do
ponto de vista da ação estratégica, isso vale muito mais que um punhado de
vereadores e prefeitos, ainda que de cidades importantes. O poder destrutivo de
uma militância treinada e remunerada é incomparavelmente maior que o das
multidões desorganizadas que ocuparam, aos milhões, do ano passado para cá, as
ruas das principais cidades brasileiras.
“Ciro
Gomes, ex-ministro de Lula e pré-candidato à Presidência da República, chegou a
afirmar, em entrevista, que se dispõe a “sequestrar” o ex-presidente e levá-lo
a uma embaixada para que saia do país e escape de prestar contas à Justiça”
O
processo de despetização da máquina pública é lento e penoso. Não basta
extinguir alguns cargos comissionados. A militância está no Ministério Público,
no Judiciário (inclusive no STF), nas embaixadas, nos meios de comunicação,
dispondo de uma ativa falange de formadores de opinião, engajados no “fora,
Temer”.
A
reação de Lula às denúncias da Lava Jato tem sido a de mobilizar essa
militância contra as instituições, incentivando o discurso vitimista do golpe –
o que, não sendo, como não é, verdade, constitui ele sim um golpe.
Ciro
Gomes, ex-ministro de Lula e pré-candidato à Presidência da República, chegou a
afirmar, em entrevista, que se dispõe a “sequestrar” o ex-presidente e levá-lo
a uma embaixada para que saia do país e escape de prestar contas à Justiça.
O
que fez é um crime, semelhante, só que a céu aberto, ao que Delcídio do Amaral
propôs fazer com Nestor Cerveró. Mas, diante do que o próprio Lula faz,
propondo a guerra civil, já não impressiona ninguém. O que se tem, na
impossibilidade de uma solução legal e institucional aos crimes já revelados, é
o apelo à baderna e a tentativa de construção de uma “narrativa” fictícia que
transforme criminosos (in)comuns em perseguidos políticos.
A
dificuldade está em que os fatos insistem em acontecer. Esta semana foi preso o
segundo ex-ministro da Fazenda da Era PT, Antonio Palocci, sob a mesma acusação
– roubo - do anterior, Guido Mantega. Já estão na cadeia, também por esse
delito, três ex-tesoureiros do PT, um ex-presidente (José Dirceu) e são réus os
dois petistas que ocuparam a Presidência da República, Lula e Dilma.
“A
política, em sua origem, foi concebida como o meio pacífico de contornar
conflitos. Sem ela, volta-se à barbárie. E é nela, na barbárie, que PT e
aliados jogam suas fichas”
Há
ainda uma extensa lista de delações premiadas, de empresários e outros
cúmplices, por vir à tona e outra já revelada, exposta no Youtube. Não há
chance de todos estarem contando uma história falsa. Tudo se articula num
desenho nítido, que faz jus ao que os procuradores da Lava Jato intitularam de
Propinocracia.
Não
obstante tudo isso, a mobilização obsessiva de jovens nas universidades,
entoando o discurso do golpe, mostra que aquela que, em tese, deveria ser a
elite pensante do país, faz questão de virar as costas à realidade e
desafiá-la. A tanto chegou o ensino universitário.
E
é exatamente esse confronto, entre o país real, que herdou uma economia
arruinada e instituições desacreditadas, e o país da militância – minoritário,
mas organizado -, que mantém o ambiente de tensão, que dificulta a tarefa de
superar a crise.
A
política, em sua origem, foi concebida como o meio pacífico de contornar
conflitos. Sem ela, volta-se à barbárie.
E
é nela, na barbárie, que PT e aliados, que desmoralizaram ainda mais a política
brasileira (que nunca foi grande coisa, mas que agora é coisa nenhuma) jogam
suas fichas, na tentativa de fugir à responsabilidade pelos crimes perpetrados.
RUY FABIANO É JORNALISTA E ESCRITOR |
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