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Antes
de promover a reunião com seus filhos, todos já crescidos e em idade de andar
com as próprias pernas, a futura viúva gastou dias e mais dias fazendo e
refazendo contas e projeções financeiras. Tinha pleno conhecimento das receitas
e despesas de casa. Tudo na ponta do lápis, tudo anotadinho com o rigor de
contador profissional.
Filhos
reunidos, foi direto ao assunto, nunca foi mulher de rodeios:
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O pai de vocês não vai longe, segundo o médico. É questão de dias.
--
Mamãe, não diga uma coisa dessas. O que será de nós sem o papai? – choramingava
a mais fingida da prole.
A
futura viúva abortou o fado improvisado:
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Vai ser melhor pra ele. Está sofrendo. Não leva mais vida de gente: vegeta. E,
pra nós, vai ser melhor ainda. As despesas vão diminuir muito. Vocês não têm
ideia do que gastamos com os remédios que o governo não dá, farmacêutico para
aplicar injeção, inalação, emplasto Sabiá. O pai de vocês sempre foi
trabalhador, mas também deu muitas despesas. Antes de ficar doente, gastava o
tempo livre atirando conversa fora no bar do Carneiro, fumando sem
descontinuar, tomando cerveja, jogando bilhar...
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E comendo torresmo! – emendou a empregada de anos, também fã do gerúndio.
Adorava torresmo. Estava sempre mascando...
--
A morte de Adelino – retomou a futura viúva, após fuzilar com os olhos a
intrometida – nos dará uma folga financeira significativa. Pelas minhas contas,
a gente consegue financiar outro carro pra família, além de reformar a casa.
A
mais fingida da prole arregalou os olhos e tomou a palavra:
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Quanto tempo mesmo, mamãe, o médico disse que ele tem de vida?
(OS - novembro
de 2013)
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