"TRONINHO" DOS CABRAL (FOTO: GOOGLE) |
DE
GEDDEL E VASO-OSTENTAÇÃO
Manutenção
do ministro no cargo funciona como um aviso
para
os que ficam: quando ele ‘ponderar’, é melhor concordar
POR
ZUENIR VENTURA
O
GLOBO – 23/11/2016
Houve
tempo em que se chamava de “mal de coluna” o tormento do espaço em branco que
os colunistas têm de preencher regularmente. Hoje é o contrário. Neste quase
final de ano, houve hiperinflação de temas e personagens, o que dificulta a
escolha. Só no quesito escândalo, como decidir entre Cabral, Garotinho, Geddel,
Renan, entre outros?
Pra
começar, fico com o poderoso secretário de Governo e velho amigo de Temer, por
ter causado a renúncia e a denúncia do colega da Cultura. Antes, ele já
afrontara os bons costumes e o teto constitucional ao dizer que não abriria mão
de um centavo nos R$ 51.288,25 que recebe por mês graças ao acúmulo de salário
e aposentadoria. Depois, sempre zeloso de seus interesses, Geddel Vieira
resolveu agir contra a decisão do Iphan de embargar a construção do prédio em
que comprara um apartamento. Ele fez então o que chamou de “ponderação” e que
Marcelo Calero classificou de “pressão” — tanta que preferiu deixar o
ministério.
O
presidente manteve Geddel no cargo, mesmo depois que a Comissão de Ética da
Presidência abriu processo contra ele, o que funciona como um aviso para os que
ficam: quando Geddel “ponderar”, é melhor concordar.
Como
não há espaço para comentar as outras más notícias, escolhi a que não é a mais
importante, mas a mais pitoresca, revelada pela coluna de Lauro Jardim: o vaso
sanitário eletrônico ou privada-ostentação da ex-primeira dama do Estado do Rio
Adriana Ancelmo.
O
leitor (ou leitora) não sei, mas eu nunca experimentei uma igual, e olha que já
frequentei alguns dos vasos sanitários mais chiques daqui e de outros países —
e os piores também. Já tive que me submeter ao “boi”, o incômodo e
anti-higiênico buraco no chão que Sérgio Cabral está sendo obrigado a usar
agora, coitado.
Embora
sem testar o produto, o repórter Marco Grillo leu, perguntou muito a respeito e
nos deu detalhes numa espécie de manual de uso para possíveis interessados. A
privada tem assento com temperatura regulada para os dias de frio, tem jato de
água com pressão variável para a higiene e para a massagem (!), e controle
remoto para acionar o mecanismo. E tudo pela bagatela de 500 dólares ou menos
de R$ 2 mil, à venda nas boas casas do ramo ou pela internet.
Como
gosto de ver o lado bom das coisas, fiquei me perguntando se atrás desse
supérfluo sonho de consumo não haveria uma bem intencionada ação de preservação
ambiental.
Quem
sabe a compra dessa parafernália eletrônica não terá sido para dispensar papel
higiênico que, como se sabe, ajuda a devastar nossas florestas?
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