FALTAM
À REESTRUTURAÇÃO
DO
PT QUADROS E IDEIAS
Os
petistas dividem-se entre a evasão e a falta de rumo. Quem optou pela fuga
busca a melhor oportunidade. Os outros adaptam-se às circunstâncias. Os céticos
avaliam que o partido, como está, não tem futuro. E os cínicos fingem que não
há um passado
POR
JOSIAS DE SOUZA
UOL –
12/11/2016 | 04:27
A
surra eleitoral ajudou a expor o tamanho da crise pela qual passa o PT. É
proporcional a dois fenômenos que grudaram na estrela vermelha: a ruína
econômica e a degradação ética. Os petistas dividem-se entre a evasão e a falta
de rumo. Quem optou pela fuga busca a melhor oportunidade. Os outros adaptam-se
às circunstâncias. Os céticos avaliam que o partido, como está, não tem futuro.
E os cínicos fingem que não há um passado.
Em
fase de reorganização interna, o PT marcou o seu 6º Congresso Nacional para os
dias 7, 8 e 9 de abril de 2017. Será o encontro da virada, anunciam os líderes
do grupo de Lula, ainda majoritário. Será? Faltam três coisas para a
reestruturação da legenda: desconfiômetro, quadros e ideias.
A
ausência de desconfiômetro impede o PT de reconhecer os seus erros. A escassez
de quadros mantém a legenda acorrentada a Lula e sua rotina penal. A
inexistência de ideias dá ao partido uma aparência de cachorro que acaba de
cair do caminhão de mudança. Não é que os petistas tenham dificuldades para
encontrar soluções. Em verdade, eles ainda não enxergaram nem o problema.
No
documento de convocação do Congresso partidário, o PT anuncia que fará
“oposição implacável” ao “governo usurpador” de Michel Temer. Critica a emenda
constitucional do teto dos gastos federais, a reforma da Previdência e a
reformulação do ensino médio. As críticas são natimortas. Falta-lhes nexo.
“No
seu esforço para voltar a seduzir o eleitorado, o PT terá de superar
um
paradoxo: a legenda acha que é uma coisa. Mas a soma
dos palavrões que inspira
nas esquinas e nos botecos
indica que sua reputação é outra coisa"
Henrique
Meirelles, o ministro da Fazenda de Temer, serviu à gestão Lula como presidente
do Banco Central. Só não virou ministro de Dilma porque a criatura rejeitou o
conselho do criador. Nelson Barbosa, último titular da Fazenda no governo
Dilma, também flertou com um modelo de teto de gastos. Madame caiu antes que
ele pudesse inplementá-lo. A reforma da Previdência também compunha o cardápio
anticrise de Dilma.
Quanto
à reforma do ensino médio, o PT poderia acusar Temer de plágio. Dilma fez da
modernização do ensino médio bandeira da campanha presidencial de 2014. Há
vídeos disponíveis na internet. Neles, a então candidata prega o mesmo modelo
sugerido sob Temer: definição de um currículo comum e enxugamento do número de
disciplinas. Madame chegou mesmo a insinuar que matérias como filosofia e
sociologia seriam dispensáveis. É como se agora, apeado do poder, o PT
assumisse o papel de Narciso às avessas. Acha feio o que é espelho.
O
Congresso do PT é vendido como um “instrumento de reorganização, renovação,
revitalização e retificação de nossas práticas internas, mas também de nossas
relações com a sociedade.'' Ai, ai, ai.
Não
há reorganização sem um mínimo de unidade. Num partido cujos filiados só
conseguem citar o nome de três grandes líderes —Lula, Lula e Lula— a renovação
é utopia irrealizável. Impossível revitalizar um agrupamento que trata os
hóspedes do PF’s Inn de Curitiba como ''herois do povo brasileiro.'' Sem uma
expiação dos pecados, a retificação de práticas é o outro nome de conversa
fiada.
O
Brasil é pródigo na oferta de opções partidárias. Submetido a três dezenas de
partidos, basta ao eleitor decidir se quer ser de esquerda, meia esquerda, um
quarto de esquerda, direita dissimulada, direita Bolsonaro… Com tantas
alternativas, o PT optou por liderar a bloco dinheirista do espectro político.
Adotou a ideologia do ''quanto eu levo nisso?''
No
seu esforço para voltar a seduzir o eleitorado, o PT terá de superar um
paradoxo: a legenda acha que é uma coisa. Mas a soma dos palavrões que inspira
nas esquinas e nos botecos indica que sua reputação é outra coisa. Ou a
renovação começa do zero ou o novo será apenas o cadáver do velho. Será
facilmente reconhecido pelos vermes.
JOSIAS DE SOUZA É JORNALISTA |
Nenhum comentário:
Postar um comentário