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O DOSSIÊ DO BLOG DO NOBLAT
SOBRE SÉRGIO CABRAL
POR RICARDO NOBLAT
EM 22/11/2016 | 14h03
Em
depoimento prestado, ontem, à Polícia Federal, o ex-governador Sérgio Cabral
disse que jamais teve relações espúrias com o empresário Eike Batista. E só
lembrou de ter voado em jatinho de Batista uma única vez.
Para
avivar a memória de Cabral, segue aqui minha coluna semanal publicada em O GLOBO de 4 de julho de 2011. E links
de matérias que postei sobre Cabral neste blog nos últimos anos (*)
NAS
ASAS DE EIKE
Dono
de um patrimônio avaliado em 30 bilhões
de dólares, apontado pela Revista Forbes como a 8ª pessoa mais rica do mundo, o empresário Eike Batista pode
emprestar a quem quiser seu jato Legacy de 26
milhões de dólares. Mas nem todo mundo pode aceitar o empréstimo. Como
homem público, o governador Sérgio Cabral, por exemplo, não poderia.
Sabia-se
que em outubro de 2009, Cabral voou no jato de Eike para assistir em Copenhague
ao anúncio da escolha do Rio como sede das Olimpíadas de 2016.
Soube-se
que ele voou no mesmo jato para passar recente fim de semana em Porto Seguro,
que culminou com a queda de um helicóptero e a morte de sete pessoas.
Agora
se ficará sabendo que pelo menos uma outra vez Cabral voou à custa de Eike. No
mesmo Legacy. E que não foi um vôo de ida e volta a algum lugar.
Foi
um vôo cheio de idas e voltas. Um vôo excepcional. Que mobilizou o jato de Eike
durante uma semana. E que provocou
uma canseira braba nos pilotos.
Dia
3 de dezembro do ano passado.
Jordana
Cavendish, mulher do empresário Fernando Cavendish, dono da empreiteira Delta
Construções, e de contratos com o governo do Rio no valor de R$ 1 bilhão, seu filho de três anos de
idade e a babá do menino, estavam de malas prontas para voar em avião comercial
com destino a Nassau, nas Bahamas, paradisíaco arquipélago do Caribe.
Adriana
Ancelmo, mulher de Cabral, com seus filhos Thiago e Mateus e duas babás, também
ia para Nassau e resolveu convidar Jordana para formarem um grupo e viajarem
juntas no jato de Eike. Convite aceito, o grupo decolou do aeroporto Santos
Dumont por volta das 20h.
Fernando
Cavendish, sua mãe, a filha mais velha, o secretário de Saúde do Rio, Sérgio
Côrtes, e mais a sogra de Côrtes, a mulher, duas filhas e duas babás seguiram
em vôo comercial, que correu sem incidentes.
O
jato de Eike, com Adriana, Jordana, filhos e babás, posou em Manaus para que os
passageiros apresentassem os documentos de saída do Brasil. E aí...
Aí
deu rolo.
O
filho de Jordana, do primeiro casamento dela, estava sem o documento assinado
pelo pai autorizando-o a deixar o país. Agentes da Polícia Federal foram
inflexíveis no cumprimento da norma. Não cederam nem diante de um pedido feito
por Cabral, que telefonou para eles. Como o impasse foi resolvido? Simples.
Muito simples.
Adriana
Ancelmo, os dois filhos e suas babás retomaram o vôo para Nassau. Jordana, o
filho e a babá ficaram em Manaus à espera do documento que lhes permitiria
continuar a viagem.
O
documento chegou dois dias depois. O jato de Eike, que esperava o desfecho do
caso em Nassau, voltou a Manaus.
Dali,
com os passageiros remanescentes, novamente voou para Nassau.
Faltava
alguém para completar a lista dos que haviam combinado passar uma semana de
férias no luxuoso hotel Atlantis, de seis estrelas. Quem? Cabral!
E
lá se foi o jato de Eike buscá-lo no Rio, juntamente com três agentes de
segurança. E outra vez o jato decolou para Nassau.
Os
Cabral e Cavendish ocuparam duas espaçosas suítes, uma em frente da outra. A
diária? Cerca de 800 dólares.
Desfrutaram
de dias de sol fraquinho e de algum frio ao entardecer. Depois de sete dias, a
contar da chegada a Nassau pela primeira vez do jato de Eike, teve início a
viagem de volta.
Os
que haviam ido para Nassau em vôo comercial desembarcaram no Rio em vôo
comercial. Os que voaram nas asas de Eike retornaram em suas asas.
O
quilômetro voado no Legacy custa R$
25,00. Quase seis mil quilômetros separam o Rio de Nassau.
Por
deferência de Eike, Cabral economizou uns R$
600 mil. Sem contar o trecho Nassau-Manaus-Nassau.
É
difícil crer que Cabral na semana passada tenha encomendado a seus assessores
um código de conduta capaz de orientá-lo nas suas relações com empresários. Um
código que deverá distinguir entre o público e o privado.
Com
efeito, seria preciso mesmo um código para vetar por imoral a alegre
vilegiatura de Cabral na Bahamas? Por suposto, não!
Há
códigos sobrando por aí, e vergonha faltando.
Cabral,
o Pedro, descobriu o Brasil. Que agora descobre Cabral, o Sério.
Êpa!
Quis dizer: Cabral, o Sérgio.
(*)
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