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Domingão de sol ardente, onze da manhã, lá vem Deolinda – a
“Fabulosa”, primeiro e único símbolo sexual da Vila Invernada – subindo a
ladeira, com um daqueles shortinhos descolados que fazem os velhos babarem com
gosto. Ela parou na esquina, para trocar dois dedos de prosa com uma conhecida.
E ali permaneceu por bom tempo, tempo suficiente para que a turma do bar do
Carneiro largasse os tacos de bilhar sobre o pano verde, adiasse a próxima
partida de dominó, deixasse o buraco para lá e se apinhasse na porta e calçada
do estabelecimento – para admirar, o que, na opinião de Romualdo Bastos, o
cruzadista do bairro, era a oitava maravilha do mundo moderno.
Mas, naquele domingão de sol ardente, a admiração de outrora cedeu
espaço ao mais puro e vergonhoso despeito.
-- Ela já foi boa. Hoje, está decaída. Os peitos já não são mais os
mesmos. Depois que fez regime, a bunda também despencou. Vejam lá: ela tem até
varizes. Também deu para todo mundo. Queriam o quê?
Entusiasmados com a ousadia invejosa do Maneco, a solidariedade de
botequim baixou na turma: “É isso, aí, mano velho. Falou e disse.”
O Velho Marinheiro, então, resolveu pôr ordem na casa:
-- Deolinda continua linda. Alguém aqui já saiu com ela? Se ela deu
para todo mundo, não deu para ninguém daqui, porque não é besta. Aqui, só dá
pobre desdentado, gente feia e burra. A Deolinda não é para o bico de vocês.
Vão se catar.
Mal o Velho Marinheiro virou as costas, após deixar os falastrões de queixo caído, Maneco levantou a dúvida:
-- Será que esse velho safado comeu a Deolinda e ninguém sabe? Por que ela, do outro lado da rua, mandaria beijinhos para ele?
As discussões duraram o dia todo. Ali, não se falou mais de outro
assunto.
(novembro 2014 –
atualizada em novembro de 2016)
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levou uma sapatada verbal do Velho Marinheiro.
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Por Orlando Silveira
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