RETRATO DE UMA MOÇA
NEM SEMPRE BEM COMPORTADA
(Por Clóvis Campêlo) Para
falar a verdade, de Simone de Beauvoir conheço apenas a fama de que era uma
mulher à frente do seu tempo. E essas mulheres sempre me interessaram. Mas,
nunca li nenhum dos seus livros, embora me causem curiosidade pelo menos dois
deles: “Memórias de uma moça bem
comportada”, de 1958, livro autobiográfico onde critica os valores
burgueses, e “A cerimônia do adeus”,
de 1981, onde evoca a figura de Jean Paul Sartre, o companheiro de tantos anos
e ações.
Apesar
desse vago conhecimento, interessei-me em saber mais sobre a escritora francesa
a partir da fotografia acima, descoberta por mim na grande rede numa época em
que andava pesquisando imagens fotográficas de celebridades femininas nuas.
Pensava em homenagear as imagens, não necessariamente as celebridades, com
poemas exaltando a nudez. Nessa empreitada, descobri vários nus, quase todos
trabalhados na sua composição. A fotografia de Simone atraiu-me justamente por
mostrar certo despojamento e uma simplicidade que só desfrutamos quando a
imagem da nossa nudez não corre o risco da divulgação pública.
Nua,
diante do pequeno espelho, Beauvoir ajeita os cabelos com naturalidade. As generosidades
das suas curvas contrapõem-se às linhas retas da pia branca na sua frente. O
banheiro simples, aliás, também denota despojamento: a toalha de rosto branca e
comum, a explícita utilidade do rolo de papel higiênico, uma pequena prateleira
com escova de dentes e desodorantes ou perfumes.
A
porta do banheiro entreaberta sugere que o fotógrafo era alguém que desfrutava
da sua intimidade e que a tenha pegado de surpresa, o que realça ainda mais a
beleza do quadro. Na realidade, a fotografia foi feita pelo fotógrafo americano
Art Shay, amigo do escritor Nelson Algren, um dos amantes de Beauvoir, e que
havia cedido o seu apartamento para o casal. Na época, Simone tinha 44 anos.
CLÓVIS CAMPÊLO |
A
extrema sensualidade, porém, fica por conta do salto alto que ela usava, nua,
realçando o seu belo porte feminino. Como já disse alguém, La Beauvoir não era
de se jogar fora.
Simone
nasceu em Paris, no dia 9 de janeiro de 1908. Conheceu Sartre em 1929, aos 21
anos de idade (ele tinha 24), no curso de Filosofia da Universidade de
Sorbonne, em Paris. No final do curso, ele obteria o primeiro lugar, e ela
ficaria em segundo. Logo se uniriam estreitamente, cultivando uma relação
afetiva profunda e ao mesmo tempo libertária e permissiva, onde prevalecia a
liberdade sexual e de relacionamento aberto em ambos os lados, bem ao estilo
das teses existencialistas que defendiam que cada pessoa deveria ser a
responsável por si própria.
Ela
morreria em Paris, no dia 14 de abril de 1986, aos 78 anos, em Paris, vitimada
por uma pneumonia. Os seus restos mortais estão enterrados ao lado de Sartre,
no Cemitério de Montparnasse, na Cidade Luz.
Recife,
2012
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