sábado, 12 de novembro de 2016

POLÍTICA/OPINIÃO: RICARDO BOECHAT





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FOTO: MARCELO MAGALHÃES





MORDOMIA ESCANCARADA

POR RICARDO BOECHAT
ISTO É
11/11/2016 | 18H

Deputados que compõem a base aliada do governo derrubaram na semana passada, na Comissão de Fiscalização e Controle da Câmara dos Deputados, os requerimentos de informação que solicitavam esclarecimentos sobre o uso de aviões da Força Aérea Brasileira para deslocamentos domésticos por parte de ministros.

Segundo levantamento feito pelo jornal “O Estado de S. Paulo”, Suas Excias. utilizaram 781 vezes os jatos executivos da FAB, desde que Michel Temer tomou posse. Em 238 ocasiões, os deslocamentos tiveram como origem ou destino as cidades onde vivem os ocupantes do primeiro escalão do governo, sem apresentar uma justificativa adequada nas agendas oficiais, que devem ser sempre divulgadas pela internet.

Trata-se de uma orgia com os recursos públicos. Dependendo do destino, algumas viagens custam até R$ 100 mil. Desperdício imoral, sobretudo se considerarmos que alguns dos usuários são pessoas que de dia discursam sobre as dificuldades financeiras da administração federal, mas à noite voam como príncipes.

Felizmente não são todos os ministros. Mas a lista dos usuários é extensa. Inclui Geddel Vieira Lima (Secretaria de Governo), Gilberto Kassab (Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações), Alexandre de Moraes (Justiça), Ricardo Barros (Saúde), Osmar Terra (Desenvolvimento Social e Agrário) e José Serra (Relações Exteriores). Eles vivem em cidades fartamente atendidas por linhas áreas regulares.

Os que usam e abusam desse expediente deveriam ter em mente que toda vez que um avião da FAB se desloca são os contribuintes que pagam o combustível, o desgaste do equipamento, as horas da tripulação e por aí afora. Se há previsibilidade na viagem, as autoridades deveriam esperar as promoções das companhias aéreas, sempre abundantes. Se comprar um pacote de bilhetes, os preços vão ao chão.

Importante frisar que a zona não é de hoje. No ano passado, entre janeiro e setembro, ministros de Dilma Rousseff fizeram uso da mordomia mais de 2.400 vezes, transformando em letra morta decretos da então presidente que pretenderam disciplinar o serviço. Aliás, não está sendo diferente com Temer. É duro reconhecer, mas as práticas dos nossos governantes, desde Tomé de Souza, mais os assemelham do que distinguem.


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