REFORMAS DO MARACANÃ: R$ 1 BILHÃO (FOTO: PORTAL DA COPA) |
COMO
NUNCA SE VIU ANTES
O
difícil era imaginar a dimensão das tenebrosas transações
de
Cabral, mesmo em se tratando de um exibicionista
que
gostava de posar para fotos de sua ostentação
POR
ZUENIR VENTURA
O
GLOBO – 19/11/2016 | 09h06
Só
pode ser ironia da história a coincidência que levou à mesma prisão, num
intervalo de 24 horas, dois ex-governadores, um acusado de comprar votos e o
outro de se vender a empreiteiras. Dois de uma vez só? As pessoas custaram a
acreditar. No calçadão de Ipanema, ouvi o seguinte diálogo: “Você tá fazendo
confusão, o preso foi o Garotinho, não o Cabral”, explicava o ambulante para o
freguês. Tive que intervir para encerrar a discussão: “Foram os dois, um ontem
e o outro hoje”.
Mesmo
assim, precisei garantir que acabara de ver a notícia na televisão. Para o
próprio Garotinho, deve ter sido uma surpresa, e é possível até que o susto
tenha elevado sua pressão arterial. Afinal, já se passaram dez anos da decisão
que o tornou inelegível e seis da condenação que acabou convertida em serviços
comunitários. Parecia que a Justiça se esquecera dele definitivamente.
Já
Cabral devia estar esperando, pelo menos desde que apareceram delações
premiadas acusando-o de cobrar propina das empresas que realizaram várias obras
no estado, inclusive as do Maracanã para a Copa do Mundo. O difícil era
imaginar a dimensão de suas tenebrosas transações, mesmo em se tratando de um
exibicionista que gostava de posar para fotos de sua ostentação.
Sabia-se
da casa luxuosa, de lancha, helicóptero, viagens de rico ao estrangeiro, joias
e vestidos caros para a mulher. Mas não de um rombo nos cofres públicos de R$ 224 milhões, suficientes para pagar
salários e cobrir vários programas sociais que o pacote de ajuste quer cortar,
como os 16 restaurantes populares, que poderiam ser mantidos por mais três
anos.
Se
o juiz Sérgio Moro, acostumado com histórias de corrupção, indignou-se com o
que classificou de “afronta” do denunciado, entende-se a revolta de uma
população — é ele ainda quem diz — “a que se impõem tamanhos sacrifícios, com
aumento de tributos, corte de salários e de investimentos públicos e sociais.
Uma versão criminosa de governantes ricos e governados pobres”.
Como
se sentirá um professor que ganha pouco mais de R$ 2 mil por mês ao descobrir que o governador recebia mesada de
até R$ 500 mil? Nesse clima de
insatisfação diante das ameaças de arrocho e penúria, não se sabe o que pode
acontecer se não houver punição exemplar.
Haverá
o risco de aquele coro meio tímido de “lincha, lincha”, de manifestantes contra
Cabral, engrossar e se transformar em massa de furiosos que não se contentem
apenas com a execração pública dos acusados: condução à força, cabeça raspada,
cardápio de gente comum. E que, inconformados, passem para o quebra-quebra e as
invasões.
Sinais
recentes dessa opção não faltam.
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