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DE ONDE VÊM AS PALAVRAS:
MACACO VELHO NÃO METE A MÃO EM CUMBUCA
Deonísio da Silva escreve sobre os animais
que povoam a fauna política brasileira
Por Deonísio da Silva (*)
Blog do Augusto Nunes
20/11/2016
A impunidade vinha sendo de tal ordem que macacos, velhos ou novos,
metiam a mão na cumbuca.
Os bichos frequentam a nossa conversa mais do que imaginamos. Mesmo
que um dos presos estivesse bêbado como um gambá, quando celebrava em Paris a
cachorrada que fizera com a riqueza do Rio, os brasileiros estão cansados de
engolir sapos.
Mas procuradores, promotores de justiça e investigadores não são
burros, e juízes não são antas. Muitos dos corruptos e corruptores já
engaiolados são cobras que perderam o veneno, mas há outros ainda soltos, para
os quais a vaca não foi pro brejo.
Delações premiadas já deram nomes aos bois. Os colaboradores
confidenciaram que nem todos os presos são bois de piranha e lamentam ter
navegado em rios cheios destes teleósteos de dentes afiados. Avisaram que são
tão ameaçadores e vorazes que onde eles atuam até experientes jacarés nadam de
costas.
Todavia os investigadores sabem que meliante político é mais liso do
que peixe ensaboado. E acusar o outro pode ser apenas uma forma de salvar a
própria pele. Afinal, todos sabem que muitas vezes o periquito leva a fama, mas
quem come o milho é o papagaio.
O costume de macacos meterem a mão na cumbuca foi registrado pela
primeira vez no Diálogo das Grandezas do
Brasil, livro atribuído durante muito tempo a Bento Teixeira. Mas era
prosopopeia. Capistrano de Abreu descobriu o verdadeiro autor: Ambrósio
Fernandes Brandão, judeu convertido à força pela Inquisição e pelo Santo
Ofício. Tornado cristão-novo, ele se estabeleceu como senhor de engenho na
Paraíba ainda no século XVI.
A semana trouxe políticos graúdos para o zoológico das prisões.
Foram presos dois ex-governadores. O juiz Sérgio Moro, que mandou prender
Sérgio Cabral Filho, resumiu a ópera: “Governadores ricos, povo pobre”.
O outro juiz, Glaucenir Silva de Oliveira, que mandou prender
Garotinho, esclareceu: “Toda vez que o réu tem seus interesses contrariados
pela Justiça, ocupa-se de tentar denegrir a imagem de magistrados”.
Aproxima-se a hora da onça beber água. Os juízes não estão comendo
mosca e daqui a pouco será posto o guizo no pescoço de outros gatos.
Deonísio da Silva
é professor, escritor e etimologista
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