FOTO: PEDRO KIRILOS/O GLOBO |
A
NOVA CRISE POLÍTICA
SÓ
TEM UM PAI: TEMER
O
governo balança como uma vara fina sujeita a ventos fortes.
O
estado delicado da economia não passará ileso pela mais nova
crise
política que tem um único pai: Temer com suas fraquezas.
POR
RICARDO NOBLAT
NOBLAT.OGLOBO.GLOBO.COM
EM 25/11/2016
| 05h22
O
artigo nono da lei 1.079 de 10 de abril de 1950, invocada para tirar Dilma
Rousseff do cargo, define os crimes de responsabilidade que podem levar um
presidente a julgamento e à perda do mandato.
Diz
o inciso três do artigo que é crime “não tornar efetiva a responsabilidade dos
seus subordinados, quando manifesta em delitos funcionais ou na prática de atos
contrários à Constituição”.
Diz
o inciso sete do mesmo artigo que é crime “proceder de modo incompatível com a
dignidade, a honra e o decoro do cargo”.
Haverá
certamente quem encontre em tais disposições amparo bastante para propor o
impeachment do presidente Michel Temer caso reste provado que ele fez o que o
ex-ministro da Cultura Marcelo Calero lhe imputa.
Disse
Calero a certa altura do seu depoimento à Polícia Federal sobre a pressão que
sofreu do ministro Geddel Vieira Lima, secretário do governo, para que o
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) liberasse a
construção de um prédio em Salvador onde ele comprara um apartamento:
"Que
na [última] quinta, 17, o depoente foi convocado pelo presidente Michel Temer a
comparecer no Palácio do Planalto; que nesta reunião o presidente disse ao
depoente que a decisão do Iphan havia criado 'dificuldades operacionais' em seu
gabinete, posto que o ministro Geddel encontrava-se bastante irritado; que
então o presidente disse ao depoente para que construísse uma saída para que o
processo fosse encaminhado à AGU [Advocacia-Geral da União], porque a ministra
Grace Mendonça teria uma solução";
"Que,
no final da conversa, o presidente disse ao depoente 'que a política tinha
dessas coisas, esse tipo de pressão'”.
A
revista VEJA publicou, ontem à
noite, em seu site, que Calero entregou à Polícia Federal gravações de
conversas que teve com Temer, mas também com Geddel e o ministro Eliseu
Padilha, da Casa Civil. E que elas provariam tudo o que ele afirmou no
depoimento.
O
governo obteve a confirmação da existência dos áudios. “As gravações não são de
boa qualidade, porque foram feitas com um aparelho que aparentemente estava no
bolso do Calero”, informou à VEJA um
ministro com gabinete no Palácio do Planalto.
O
episódio que pôs Calero em rota de colisão com Geddel, e que o levou a pedir
demissão, foi promovido à condição de uma robusta crise política por envolver
agora o presidente da República e alguns dos seus mais prestigiados auxiliares.
Nunca
antes na história do país um presidente teve conversas gravadas por um dos seus
ministros. Nunca antes um ministro foi à polícia e relatou as causas de sua
saída do governo. A polícia agiu a pedido da Procuradoria Geral da República,
que pensava em abrir inquérito para investigar Geddel.
Pensará
em fazer o mesmo com Temer depois do que contou Calero, o mais novo homem-bomba
da República?
A
oposição ao governo lambe os beiços diante do que lhe foi servido de graça. O
governo balança como uma vara fina sujeita a ventos fortes. O estado delicado
da economia não passará ileso pela mais nova crise política que tem um único
pai: Temer com suas fraquezas.
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