TEMER (FOTO: ARQUIVO (GOOGLE) |
TEMER,
REFÉM DE SI MESMO
O PT
foi deposto por corrupção. Ter por sucessor o partido
que
a ele se associou ao longo de todo o processo de rapina
ao
erário, o PMDB, já estava difícil de deglutir
POR
RUY FABIANO
BLOG
DO NOBLAT
26/11/2016
| 01H25
O
presidente Michel Temer está na berlinda – não só ele, mas sobretudo a visão
pragmática que concebeu para tornar seu curto mandato (que pode encurtar ainda
mais) uma gestão de resultados. Concebeu uma equipe à imagem e semelhança do
Congresso.
Se
lá não há santos – e não há -, Temer entendeu que em seu entorno também não
deve haver. É o que os fatos indicam.
Geddel
Vieira Lima, mais um ministro que sai no rastro de denúncias de corrupção, é a
cara da maioria do Congresso. E é ali que Temer pretende inspirar confiança, em
troca de votos.
A
lógica é simples: o governo precisa aprovar com urgência temas polêmicos, como
a PEC do teto dos gastos públicos. Já a aprovou com folga na Câmara e deve
aprová-la no Senado. Há ainda na fila as reformas previdenciária, tributária e
trabalhista.
É
improvável que as efetue, não ao menos na completude necessária. Mas se já
obtiver uma meia-sola, terá feito muita coisa.
Para
tanto, é o que se depreende de sua conduta, precisa cativar o colegiado
parlamentar, transmitindo-lhe segurança, neste momento em que a Lava Jato está
nos calcanhares da maioria. Se colocasse como líder no Congresso alguém de
perfil diferenciado – isto é, de ficha limpa -, correria o risco de intimidar seus
parceiros.
Isso
explica a insistência com o senador Romero Jucá, demitido do ministério do
Planejamento, mas reabilitado como líder do governo no Congresso. Em tese, se
alguém não tem condições morais para ser ministro, não pode ser líder. Em tese.
Na
prática, e dentro da visão pragmática que Temer concebeu, pode e deve, desde
que tenha trânsito junto à maioria e competência para fisgar seu apoio. Quanto
a isso, Jucá, Geddel, Elizeu Padilha, Moreira Franco, entre outros, são
indiscutivelmente talentosos.
Tal
opção mostra a essa plateia que o presidente é solidário às suas aflições,
razão pela qual retardou ao máximo a saída de Geddel e tentou negociar com o
ministro denunciante, Marcelo Calero, uma reconciliação discreta e harmoniosa.
Não
deu certo – e por uma razão simples: Calero é de outra turma – Sérgio Cabral,
Eduardo Paes, a esquerda fluminense. E cumpria outra missão: detonar Temer. Não
era um aliado, mas um infiltrado, egresso da prefeitura carioca, íntima de Lula
e Dilma.
A
ocasião se apresentou e ele apertou o gatilho. Geddel supôs estar falando com
um companheiro de viagem, mas se enganou – e demorou para perceber. Temer idem.
Calero
saiu atirando, jogando para a plateia a quem Temer deu as costas: a opinião
pública. Muniu-se de provas, chegando ao extremo de gravar uma audiência com o
presidente, para detonar não apenas o ministro infrator, mas, sobretudo, o seu
chefe.
Deu
certo. Temer sai chamuscado do episódio e perde pontos até perante a parcela da
população que torcia pelo êxito de seu mandato-tampão – não por ele, mas pela
necessidade de o país alcançar alguma estabilidade até as próximas eleições.
Esse
contingente hoje se reduziu. O PT vibrou com a performance de Calero e avisa
que pedirá o impeachment de Temer, o que dá consistência à tese de que o
ministro denunciante não agiu por impulso corretivo, mas também por
pragmatismo.
É
possível que, em meio a mais essa decepção – a que se soma a do comportamento
tíbio do Planalto diante das tentativas parlamentares de se auto-anistiarem dos
crimes de caixa dois e propinas -, o PT possa encontrar eco para além de sua
hoje esquálida militância. A saída de Temer, avisam os movimentos de rua,
constará das manifestações agendadas para o próximo dia 4.
Temer,
ao que parece, não entendeu que a principal demanda da sociedade, mais que o
próprio saneamento da economia, é a ética. Dispõe-se ao sacrifício, até porque
é inevitável, mas não sob a batuta de quem lesou ou age em favor dos que
lesaram o país.
O
PT foi deposto por corrupção. Ter por sucessor o partido que a ele se associou
ao longo de todo o processo de rapina ao erário, o PMDB, já estava difícil de
deglutir. Cabia a esse partido, em tais circunstâncias, caprichar na conduta,
como o fez, por exemplo, Itamar Franco, após o impeachment de Collor.
Itamar
afastou do governo o seu principal colaborador, o então chefe da Casa Civil,
Henrique Hargreaves, tão logo este foi denunciado, condicionando sua volta a
que provasse sua inocência.
Hargreaves
provou e voltou. Temer, em nenhum dos casos análogos, agiu com presteza; em
nenhum fez profissão de fé na luta contra a corrupção. Em recente entrevista,
chegou a considerar uma eventual prisão de Lula um desserviço ao país, pelo
potencial de desestabilização que supõe sinalizar.
Com
isso, mostrou que teme algo, que é refém dos que o precederam no cargo. Enfim,
tornou-se refém de si mesmo.
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