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O
DÉFICT DE VERDADE DE TEMER
O
presidente disse que encarar a verdade é difícil, delicado,
complicado
e desagradável, e o pior é que tem razão
POR
ELIO GASPARI
PUBLICADO
EM O GLOBO
EM
23/11/2106
Michel
Temer foi à reunião do Conselhão e disse que o governo de Dilma Rousseff vivia
com um “déficit de verdade”, com “tentativas de disfarçar a realidade”. Estava
num cenáculo onde 96 notáveis enfeitavam um evento inútil. Pela sua composição
e pelas normas do seu funcionamento, esse conselho seria mais produtivo se
fosse incorporado à escola de samba Mangueira, desfilando logo depois das
baianas (70 figurantes). Elevaria a taxa de celebridades do desfile e daria
mais notoriedade aos passistas. Estava vazia a cadeira do ministro Geddel
Vieira Lima.
Temer
fez um discurso pedestre informando que “a comunicação é fundamental”. No
melhor estilo do cerimonial de Brasília, citou nominalmente 26 ilustres
autoridades nacionais presentes. Uma delas, o ministro Henrique Meirelles,
estava ao seu lado, amenizando um desconforto cervical com exercícios
fisioterápicos.
Seria
mais uma cerimônia típica de Brasília se Temer não tivesse jogado um pote de
pimenta na própria laranjada, mencionando o “déficit de verdade” do governo da
doutora Dilma Rousseff, em cuja chapa se elegeu duas vezes. Bater em Dilma é
amassar carta que já saiu do baralho, mas quando o presidente diz que “encarar
a verdade é difícil, é delicado, é complicado, é desagradável”, deveria olhar
para seu governo e para a ausência do ministro de sua Secretaria de Governo.
Na
verdade de Geddel está a afortunada transação de um apartamento no 23º andar de
um empreendimento panorâmico que só tem autorização para subir até o 13º piso.
Se ele e Temer acham que já se explicaram, o ministro poderia elaborar a
resposta que deu para explicar seu apego aos R$ 20.354 que recebe como parlamentar aposentado, desde o seu 51º
aniversário.
Somados
aos R$ 33.763 que fatura como
ministro, estoura o teto constitucional. Ele acha que nada há de ilegal nisso.
Contudo, o procurador aposentado Michel Temer e o ministro Eliseu Padilha
reduziram seus contracheques para respeitar o teto. Como diz Temer, encarar a
verdade é difícil. Ou ele e Padilha jogaram dinheiro pela janela, ou a verdade
de Geddel é outra.
Dilma
Rousseff sempre teve uma relação agreste com a verdade. Hoje, quem tem esse
déficit é ele. Seu ex-ministro do Planejamento e atual líder no Senado foi
grampeado por um correligionário articulando uma forma de estancar “a sangria”
da Lava-Jato. O ministro do Turismo foi-se embora depois de ter sido apanhado
pela Procuradoria-Geral da República.
Desde
que o doutor entrou no Planalto, só um funcionário do governo foi demitido por
má conduta expressa. Foi o garçom Catalão. Acusaram-no de tuitar informações
sigilosas para Lula. Afirmação falsa porque o celular de Catalão não tinha
aplicativo para tuitar.
É
possível que Temer acredite nos milagres da comunicação. Afinal ela é
“fundamental”. Essa fé leva governantes a acreditarem que versões
inverossímeis, eventos coreografados como o encontro do Conselhão, com a
ausência estratégica de Geddel, possam fabricar uma realidade própria. Às vezes
isso funciona. Sérgio Cabral foi um governador indiscutivelmente festejado. Foi
até reeleito com dois terços dos votos. Deu no que deu.
Difícil é aceitar e assumir que o governo precisa abrir mão de suas mordomias e cortar na carne.
ResponderExcluirO exemplo deve começar pelo Planalto. O contribuinte já não suporta mais ser penalizado e ter que dividir a conta para satisfazer as benesses palacianas. Não podemos desprezar a vontade popular, que anda muito próxima em produIr uma convulsão social que poderá culminar com a caça as bruxas.
Grupo: OPINIÃO
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