sábado, 26 de novembro de 2016

CADA UM COME O SEU...


O caipira tinha dinheiro de sobra, gostava de ostentar seus carrões, roupas de grife e correntes de ouro, não abria mão de frequentar restaurantes caros. Mas não gostava de passar por jeca – sejamos francos: ninguém gosta de passar por jeca, ainda mais se for jeca.

Certa feita, nosso matuto veio para a capital a negócios. Resolveu jantar num restaurante chique. A desgraça é que ele não tinha a menor ideia do que pedir para comer e beber. Não entendia o que estava escrito, em francês, no cardápio. Escolheu sua mesa a dedo. Ao lado da mesa de um grã-fino.

-- Garçom, me traga o prato de sempre – pediu o bacana, frequentador assíduo da casa.

O caipira não deixou por menos:

-- Dois.

O bacana pediu ao garçom “o vinho de sempre”.

E o caipira:

-- Dois.

Nosso jeca foi nessa batida até a hora da sobremesa. O bacana estava a ponto de estourar. E estourou:

-- Garçom, isso aqui está insuportável. Quero o manobrista.

-- Dois, pediu o caipira.

-- Escuta aqui, cidadão: um manobrista dá para os dois.

O caipira retrucou:

-- Nada disso! Cada um come o seu.
(OS-FEVEREIRO DE 2015)
  
  

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