SÉRGIO CABRAL E MULHER (FOTO: ARQUIVO GOOGLE) |
ÀS
VÉSPERAS DO INCÊNDIO
Temer,
o Senhor Prudência, brinca com fogo às vésperas
de
novas revelações que poderão incendiar boa parte da República.
POR
RICARDO NOBLAT
BLOG
DO NOBLAT
21/11/2016
- 03h00
Fica
combinado assim: anistia-se quem cometeu crime de caixa dois – a doação e o uso
de dinheiro não declarado à Receita e à Justiça para financiar campanhas
eleitorais.
Anistia-se
também quem cometeu o crime de lavagem de dinheiro. E para que não reste
brecha, anistia-se quem cometeu crime de corrupção. Que tal?
É
isso o que a Câmara dos Deputados ameaça aprovar, se possível, ainda esta
semana.
Lamentam
os que desejam anistia para seus crimes que ela não tenha sido aprovada na
semana passada. Teria provocado a ira da opinião pública? Certamente.
Mas
nada que não pudesse ser aplacado em seguida pela onda de satisfação que se
levantou no país com a prisão num período de 24 horas de dois ex-governadores
do Rio de Janeiro - Sérgio Cabral e Garotinho, acusados de corrupção.
Admitamos:
nunca antes na história do Brasil, dois ex-governadores do segundo mais
importante Estado do país foram postos no xilindró e submetidos às mesmas
regras que ditam a vida dos demais presos.
É
verdade que Garotinho acabou enviado a um hospital por causa de uma artéria
entupida. Mas se ficar bem, poderá mais adiante ir para Bangu 8, o mesmo
destino de Cabral.
A
observar no caso da prisão dos dois, o esculacho ao qual sempre estão sujeitos
os mais notáveis suspeitos ou condenados por crimes em geral.
O
transporte de Garotinho para o presídio foi filmado em seus mais dramáticos
detalhes. Mal Cabral deu entrada ali, fotos dele com a cabeça raspada já
circulavam nas redes sociais.
A
privacidade é um direito assegurado a todos por lei, até mesmo a bandidos.
Às
favas todas as leis que obriguem os políticos a se por de acordo com o Novo
Estado esboçado pela Lava Jato com amplo apoio popular. É o que eles desejam.
Chamo
de Novo Estado para não remeter ao Estado Novo de Getúlio Vargas, de tristes e
de tão amargas lembranças. A sociedade de junho de 2013, das gigantescas
manifestações de ruas pelo impeachment, só tem feito avançar.
Deixou
para trás empresários e políticos do Estado em ruína, do capitalismo de laços
que resiste a sair de cena para dar lugar a um Estado capitalista baseado na
livre competição.
A
corrupção não deixará de existir uma vez que se faça tal passagem. Mas ela será
menor se comparada ao seu tamanho atual. Os empresários e políticos do regime
ancião estão na contramão da História.
RICARDO NOBLAT É JORNALISTA (FOTO: GOOGLE) |
O
governo Michel Temer é um paradoxo. Ao mesmo tempo em que se oferece como “uma
ponte para o futuro” é formado por legítimos representantes de um passado que
pretende apagar.
Se
não apagar por impossível, relegar a um plano subalterno onde poderia ser
estudado pelos interessados em pesquisar e compreender melhor os vários
estágios da evolução de um povo.
Estabelecer
um teto para gastos públicos; resgatar a lei de responsabilidade fiscal;
reformar a Previdência, a legislação trabalhista e a Política; com tudo isso e
mais alguma coisa acena o governo de Temer, refém do estilo excessivamente
conciliador do seu titular, das angústias que o fazem hesitar ou retroceder
muitas vezes, e de um sistema político apodrecido.
Neste
mesmo governo, um ministro vai às compras, faz advocacia administrativa a favor
de um empreendimento imobiliário, é denunciado por outro ministro que se
demite, e vira alvo de investigações no Congresso.
Temer,
o Senhor Prudência, brinca com fogo às vésperas de novas revelações que poderão
incendiar boa parte da República.
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