DOM MENAS LADEADO POR SUAS CRIAS (*) |
CABRAL
JÁ FOI, FALTA A CORTE
A
podridão do PMDB do Rio na última década,
exposta
agora pela Justiça e pela Polícia Federal,
não
pode ser alienada do reinado Lula-Dilma
POR
GUILHERME FIUZA
PUBLICADO
EM O GLOBO
VIA
BLOG DO NOBLAT
19/11/2016
| 08h02
Garotinho
— preso na véspera — zombando da prisão de Cabral é um momento insuperável da
política brasileira. Mais impressionante que isso, só o Brasil zombando dos
fatos. A narrativa espalhada pelo pessoal que vive de espalhar narrativas é que
a prisão de Cabral detona o PMDB e, consequentemente, o governo golpista que
derrubou a mulher honesta. Como escreveria Nelson Motta: rsrs.
Ainda
penando para sair do buraco, o país está louco para ser roubado de novo. Vamos
contrariá-lo. Falta um dado essencial na investigação que levou à captura de
Sérgio Cabral: a conexão Delta-Dilma. A empreiteira de estimação do
ex-governador preso tornou-se subitamente a campeã das obras do PAC — do qual,
como se sabe, Dilma é a mãe.
E
foi sob essa generosa proteção maternal que a Delta se associou a Carlinhos
Cachoeira para plantar o laranjal em torno do Dnit — no escândalo dos
superfaturamentos de estradas que o Brasil, claro, já esqueceu. O PMDB de
Cabral, portanto, é antes de tudo sócio histórico do PT de Dilma e Lula.
Interessante observar que Fernando Cavendish, o ex-poderoso mandachuva da Delta,
dedurou à polícia uma boiada inteira para ferrar seu ex-amigo, e aparentemente
não tocou nos anjos da guarda de Brasília.
Você
está impressionado com os R$ 222 milhões
desviados em quatro obras do Rio? Bem, isso é brincadeira de criança perto das
fraudes detectadas nas obras viárias do PAC — que não levaram ninguém em cana
porque o Brasil estava aclamando mamãe como a faxineira da nação. A negociata
do Maracanã aconteceu sob o mesmo guarda-chuva da Copa das Copas — a fantástica
conexão entre os picaretas da Fifa e os do PT que rendeu os estádios mais caros
da história da competição.
GUILHERME FIUZA É JORNALISTA E ESCRITOR |
O
Maracanã de Cabral é primo do Itaquerão de Lula, já devidamente incluído na
Lava-Jato, capítulo Odebrecht. A podridão do PMDB do Rio na última década,
exposta agora pela Justiça e pela Polícia Federal, não pode ser alienada do
reinado Lula-Dilma. Isso é roubo. O que está acontecendo hoje em Brasília é um
pouco diferente.
Ao
menos nos postos-chave do governo, Michel Temer fez a dedetização: ouviu a
banda boa do Brasil (é incrível, mas ela ainda existe) e colocou no Banco
Central, na Fazenda, no Tesouro, no BNDES e na Petrobras comandantes
respeitados (todos eles) no mundo inteiro. Não é que Temer seja bonzinho, nem
que o PMDB dele seja flor que se cheire: é apenas um presidente fazendo a coisa
certa, talvez por instinto de sobrevivência, como fez Itamar Franco no Plano
Real.
Quem
lembra que a estabilidade monetária foi conquistada num governo do PMDB?
Ninguém, porque o plano foi feito apesar do PMDB. Apesar de Renan Calheiros e
grande elenco obscuro, o governo Temer abriu espaço para gente séria tomar
conta do dinheiro. E todos os indicadores macroeconômicos estão começando a
melhorar por causa disso — incluindo milagres como a recuperação da Petrobras,
depenada pelos companheiros nacionalistas e guardiões do que é nosso (deles).
“Existe
algo mais poético do que um país inteiro transformado
num
jardim de infância? Os invasores revolucionários acreditam
que
a PEC é para desviar dinheiro da Educação para
o
Conde Drácula do PMDB”
Isso
é uma tragédia para os profissionais da narrativa miserável. No que a vida do
povo melhora, o palanque da salvação bolivariana fica às moscas. Mas o conto de
fadas da revolução progressista não pode morrer, porque administração séria é
um tédio. Alguém acha que a MPB vai compor um hino para o equilíbrio das contas
públicas? Que poeta emprestaria seu charme marginal para o saneamento do
Tesouro?
Era
preciso pensar numa reação rápida contra o atentado de monotonia, perpetrado
pelos homens brancos, velhos, recatados e do lar — e daí surgiu a ideia genial:
demonizar a arrumação da casa. Assim nasceu o famoso slogan “A PEC do fim do
mundo”. Enfim, um sopro de poesia na aridez cruel dos números — quando todo
mundo sabe que esse negócio de fazer conta é coisa de reacionário,
especialmente se a conta fecha.
A
iniciativa do governo de propor um teto para os gastos públicos é uma ação
neoliberal, praticamente nazista, porque certamente impediria o surgimento de
novos heróis humanitários como Delúbio, Vaccari, Valério e Dirceu. Qualquer
coxinha de esquerda metido em ocupação de escola sabe que, sem cheque especial
ilimitado, a revolução engasga.
É
comovente ver instituições de ensino invadidas e ocupadas por todo o território
nacional contra a PEC do fim do mundo. Existe algo mais poético do que um país
inteiro transformado num jardim de infância? Os invasores revolucionários
acreditam — ou fazem de conta, o que no universo infantil dá no mesmo — que a PEC
é para desviar dinheiro da Educação para o Conde Drácula do PMDB. Fora Temer!
Esses
caçadores de Pokémon do pós-impeachment montaram uma cena épica na PUC. A
universidade carioca foi “ocupada” contra a vitória de Donald Trump. Como se
vê, o videogame ideológico da garotada tem um alcance formidável. Curiosamente,
o jogo parece não ter caçada a Lula e Dilma, os bichinhos mais vorazes da fauna
local. Tudo bem. Deixem estes para os profissionais. Se o Brasil descobriu
Cabral, haverá de chegar à Corte.
(*) FOTO: CARLOS MAGNO
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