GUILERME FIUZA (ARQUIVO GOOGLE) |
A
ESCOLA DA PEDRADA
A
reforma da educação já era discutida no governo Dilma
– e
ninguém invadiu escola por causa disso
POR GUILHERME
FIUZA
ÉPOCA
ONLINE
11/11/2016
| 15h03
Com
o impeachment começando a sumir na poeira da estrada, e o país se acostumando a
seu novo rumo, vai se impondo a inexorável conclusão: Dilma é que era legal.
Pelo menos, a julgar pelo movimento revolucionário dos ocupadores de escolas.
Às
vésperas da realização do Enem, a revolução se intensificou. Com invasões a
estabelecimentos de ensino em 21 estados, mais o DF (a Federação tem cinco
estados alienados), os revolucionários protestam contra o ajuste fiscal
proposto pelo governo Temer – PEC 241 – e contra o projeto de reforma do ensino
médio.
Como
quem ainda lê algo além de disparates no Facebook sabe, a ideia das mudanças no
ensino médio visa tornar o currículo menos disperso, aproximando-o dos
interesses específicos de cada aluno – enfim, ajudando o estudante a estudar,
como acontece em vários dos países mais letrados. Também não é segredo que o
projeto é um projeto – ou seja, está colocado para discussão por parte de todos
que queiram discutir, pensar e outras ações não tão emocionantes quanto jogar
pedra.
Desde
que o governo Temer pôs o assunto na pauta, a proporção tem estado mais ou
menos em uns 5% de debate e 90% de pedrada (descontando-se uns 5% de isentões – os que têm pedras nas
mãos sem a coragem de jogá-las). Se você tentar discutir – no sentido nobre do
termo – com algum dos críticos da reforma proposta, provavelmente ele vai
gritar que querem acabar com a educação física, tornar o país sedentário e
matar todos os inocentes de colesterol alto. Só lhe restará perguntar se o
aguerrido interlocutor também não abre mão de moral e cívica.
O
maior enigma dessa revolução, porém, está num elemento impressionante: no
governo da saudosa companheira Rousseff, essa reforma hedionda já estava em
discussão – sem uma única sala de aula invadida por causa disso. Não restam
mais dúvidas: Dilma é que era legal.
Mas
tem também a PEC demoníaca, já apelidada por algum discípulo de João Santana de
“PEC do fim do mundo”. Um voluntarioso exército propagador, com seus diligentes
repetidores nas artes, nas universidades e na imprensa, espalhou que essa PEC
aí é para tirar dinheiro da Educação e da Saúde. Alguns vão além, explicando
que é uma manobra para beneficiar os banqueiros. Eles só não revelam que o Lobo
Mau comeu a Vovó e está prestes a devorar Chapeuzinho porque a criançada
revolucionária poderia não suportar tanta crueldade.
A
notícia de que a PEC 241 vai tirar dinheiro da Educação e da Saúde não
corresponde à realidade dos fatos. Ou, em português mais claro: é mentira.
Alguns poderão argumentar que se trata de um mal-entendido, mas estarão
equivocados. A turma que espalhou a historinha da PEC do fim do mundo sabe bem do
que está falando – e tem plena confiança de que a multidão de inocentes úteis
dispostos a repetir a falácia jamais se dará ao trabalho de ler uma linha séria
sobre ela. A PEC 241 tem o único e singelo objetivo de tentar começar a arrumar
a casa após o cataclismo financeiro da última década. Mas os revolucionários
não vão cair nessa: a ruína da Dilma é que era legal.
Se
a PEC dos homens brancos, velhos, recatados e do lar passar, a Educação e a
Saúde vão ter mais dinheiro. Não é naquele futuro imaginário do pré-sal,
vendido pelos companheiros como terrenos na Lua: é do médio para o curto prazo.
E mais importante ainda do que a apreciação orçamentária dos setores sociais
será, se tudo der miseravelmente certo, a descontaminação da gestão dessas
áreas – entregues pelos heróis petistas a seus parasitas de estimação. Aí a
ocupação das escolas terá de ser para protestar contra o assassinato da moral e
cívica.
Os
movimentos de invasão das escolas e paralisação das aulas começou no Estado de
São Paulo – coincidentemente governado por um partido de oposição à então
presidente da República. Ainda com a saudosa Dilma no Planalto, surgiram
ocupações no Rio de Janeiro e no Paraná, que apresentavam como causa a
resistência ao impeachment, contra o golpe etc. Com essas palavras de ordem
caindo de maduras, impôs-se a indignação nacional contra a PEC. E quando a PEC
passar, será contra a perseguição à alma mais honesta do mundo.
Até
que o Brasil pare de passar a mão na cabeça em quem lhe atira pedra fingindo
defendê-lo.
GUILHERME FIUZA É JORNALISTA E ESCRITOR
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