Avessos
a políticos, mas adeptos de toda e qualquer boca-livre, os fregueses do Bar do Carneiro
aguardavam ansiosos o meio-dia daquele domingo, antevéspera das eleições
municipais. Afinal, o churrasco estava garantido. Doutor Inácio – é dessa forma
como gosta de ser chamado, embora só disponha do diploma de bacharel barrado nos
exames da OAB – era candidato a mais um mandato de vereador. Estava no
terceiro. Durante doze anos consecutivos, não perdeu uma chance sequer de
provar – e comprovar – sua inutilidade como homem público.
Paparicado
pelos presentes, o candidato cumpriu mais que o combinado com o dono do bar: além
da carne e do pão, passou a pagar cachaça e cerveja para os possíveis
eleitores, que não se cansavam de enaltecer – da boca para fora, evidentemente –
as benfeitorias que ele jamais trouxera para Vila Invernada e região. Eleição
difícil, aquela. Povo cada vez mais empobrecido, gente mais descrente que nunca.
Doutor Inácio abriu a carteira, mas, por prudência, economizou na falação
palanqueira. A rigor, limitou-se a elencar feitos não feitos e a omitir seus malfeitos.
Mas, por aquela, ele não esperava: o Velho Marinheiro, que não tocara no
churrasco e bebera com recursos próprios, pediu a palavra:
--
Vereador Inácio: minha neta Irene fez uma pesquisa sobre sua atuação na Câmara
Municipal. O senhor, de fato, foi o que mais apresentou projetos de lei: 136,
até ontem – disse nosso Lobo do Mar, com ares de quem colocaria uma pá de cal
nas pretensões do candidato.
--
Obrigado, pela lembrança, caro eleitor. Muito oportuna. O senhor é um cidadão consciente.
--
Não se anime. Jamais serei seu eleitor. Dos 136 projetos, não se aproveita um.
A maioria é autorizativo. Ou seja: o senhor autoriza o prefeito a fazer o que
ele não está impedido de fazer. São, portanto, propostas inúteis. Os demais são
nomes para ruas, praças, vielas, viadutos e pinguelas. Além disso, quem quer se
esconder de Vossa Excelência deve ir ao plenário no horário das sessões. O
senhor raramente está por lá. Se fosse pouco, ainda é acusado de tomar parte dos
salários dos funcionários que nomeou. Sua folha corrida é extensa.
--
Que absurdo – limitou-se murmurar o candidato, afetando indignação.
De
barrigas e caras cheias, todos foram saindo de fininho. Mas Doutor Inácio, que,
dias depois, seria derrotado nas urnas, não ficou para apagar as luzes. (OS - NOVEMBRO - 2016)
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O Velho Marinheiro foi logo deixando claro:
"Não espero nada de ninguém. Se puder ajudar, ajudo.
Se não puder, aviso: não posso fazer nada por você,
vá procurar adjutório em outra freguesia."
Por Orlando Silveira, em "O príncipe do samba-canção" http://orlandosilveira1956.blogspot.com.br/2016/11/ananias-o-principe-do-samba-cancao.html#comment-form
O Velho Marinheiro foi logo deixando claro:
"Não espero nada de ninguém. Se puder ajudar, ajudo.
Se não puder, aviso: não posso fazer nada por você,
vá procurar adjutório em outra freguesia."
Por Orlando Silveira, em "O príncipe do samba-canção" http://orlandosilveira1956.blogspot.com.br/2016/11/ananias-o-principe-do-samba-cancao.html#comment-form
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