MICHEL "INOCENTE" TEMER (FOTO: ARQUIVO GOOGLE) |
EXCESSO DE INOCÊNCIA
AINDA VAI DERRUBAR TEMER
A honradez de Temer é incrível porque é difícil de acreditar
que alguém que preside o PMDB há 15 anos, convivendo
com cunhas, renans e jucás, ainda consegue
brandir uma reputação inatacável
POR JOSIAS DE SOUZA
UOL – 16/12/2016 | 05:02
Michel Temer considera-se dono de uma honradez incrível. E as
delações da Odebrecht levam o brasileiro enxergar em Temer uma inocência tão
inacreditável que começa a suscitar uma dúvida: para que serve a honradez do
presidente? Descobriu-se que o nome de Temer foi citado pela terceira vez em
delação da Odebrecht.
Márcio Faria da Silva, um dos principais executivos da empreiteira,
contou a procuradores da Lava Jato que providenciou um repasse financeiro para
o PMDB, em 2010, a pedido de Temer e Eduardo Cunha. Fez isso em troca do
azeitamento de negócios com a Petrobras.
Segundo o delator, a transação foi acertada em reunião no escritório
de Temer, em São Paulo. Participou da conversa, além de Cunha, outro personagem
tóxico: João Augusto Henriques. Vem a ser um operador de propinas do PMDB
dentro da estatal petrolífera.
Instado a esclarecer, Temer admitiu ter recebido um empresário a
pedido de Eduardo Cunha. Afirmou que o sujeito manifestara o desejo de fazer
doação eleitoral ao PMDB. O operador João Henrique estava presente, Temer
também admitiu.
Temer jura que não se falou na reunião nem de dinheiro nem de
contrapartidas. Se Eduardo Cunha celebrou negócios depois da reunião, agiu por
sua conta e risco. Ai, ai, ai. A explicação do presidente vale como uma
caricatura burlesca do bordão “eu não sabia.”
As novas revelações chegam nas pegadas da delação de Claudio Melo
Filho, aquele ex-executivo da Odebrecht que testemunhou o jantar no qual o
então vice-presidente Temer, em pleno Palácio do Jaburu, mordeu Marcelo
Odebrecht em R$ 10 milhões. A doação foi legal, sustentam Temer e Eliseu
Padilha, que o acompanhava no jantar. Caixa dois, rebate o delator, cujo
depoimento já foi ratificado por Marcelo Odebrecht.
A honradez de Temer é incrível porque é difícil de acreditar que
alguém que preside o PMDB há 15 anos, convivendo com cunhas, renans e jucás,
ainda consegue brandir uma reputação inatacável.
A inocência de Temer é inacreditável porque não dá para acreditar
que um personagem com o seu histórico — 30 anos de vida pública, presidente da
Câmara três vezes — é ingênuo a ponto de se deixar usar por gente como Cunha.
Temer faz lembrar um personagem secundário da peça Júlio César, de
Shakespeare. Açulados por Marco Antonio, os plebeus saem à caça dos assassinos
de César. Encontram Cinna. Alguém grita: “Matem-no, é um dos conspiradores!”
Ouve-se outra voz ao fundo: “Não, é apenas Cinna, o poeta.” E ecoa no ar
sentença: “Então, matem-no pelos maus versos”.
O excesso de inocência, por inacreditável, ainda vai derrubar Michel
Temer, o poeta do PMDB, da Presidência da República.
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