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ILUSTRAÇÃO: ARQUIVO GOOGLE |
DE ONDE VÊM AS PALAVRAS:
A TOQUE DE CAIXA,
COM A PULGA ATRÁS DA ORELHA
Deonísio da Silva explica por que os parlamentares,
com a pulga atrás da orelha e a espada de Dâmocles
sobre a cabeça, têm aprovado projetos a toque de caixa
Por Deonísio da Silva (*)
Blog do Augusto Nunes
04/12/2016
Muitas frases célebres foram invocadas na semana passada, como estas
com que Augusto Nunes encerrou uma de suas intervenções, aqui na Veja on-line.
“A Constituição avisa que todo o poder emana do povo. Cumpre ao Parlamento
fazer o que o povo quer”.
É que o senador Renan Calheiros, ora presidente do Senado,
esqueceu-se do Art. 1º da Constituição: “Todo o poder emana do povo, que o
exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta
Constituição.”
Ele e os 14 senadores que o seguiram, não fosse a oposição de outros
colegas, teriam validado um projeto sinistro. Com a espada de Dâmocles sobre a
cabeça — no dia seguinte, ele seria declarado réu no STF — e com a pulga atrás
da orelha, Renan e os 14 sequazes projetaram fazer o contrário do que o povo
quer, endossando a sabotagem urdida antes na Câmara naquele mesmo dia.
Eles tentaram, a toque de caixa, acabar com o trabalho heróico que
promotores de Justiça e juízes, respaldados pelo povo nas ruas, vêm fazendo
para combater a septicemia da roubalheira, palavra até elegante para designar o
apodrecimento do sangue que circula pelas instituições brasileiras.
Mas de onde vêm estas frases e expressões? Vejamos:
1. A toque de caixa
Os árabes conquistaram Portugal nos anos 700. Ali permaneceram por
sete séculos. Os exércitos mouros tinham uma estratégia militar que os
diferenciava das forças portuguesas: quase não usavam mensageiros nas batalhas.
As ordens eram dadas pelo rufar de tambores, chamados caixas. A expressão
daquele costume tornou-se conhecida de geração em geração como “a toque de
caixa”.
Depois que os árabes saíram, os portugueses passaram a usar também o
toque de caixa para expulsar vagabundos e arruaceiros das tabernas, isto é,
batiam os tambores e, sem discussão alguma, colocavam todos para fora do
recinto.
Desde então, diz-se de qualquer coisa feita às pressas que foi “a
toque de caixa”.
2. Com a pulga atrás da orelha
Durante séculos houve grande infestação de pulgas em todo o mundo. Inseto
pequeno, mas irritante, sua picada doía, coçava, incomodava muito e transmitia
doenças.
Se a pulga picasse atrás da orelha, pior ainda. Era um de seus
lugares preferidos, por esconder-se entre os cabelos, e uma picada ali fazia
correr mais facilmente o sangue.
O incômodo e o mal-estar causados pela pulga atrás da orelha foram
comparados a toda preocupação que nos assola o espírito.
3. Espada de Dâmocles
Entre os séculos IV e III a.C., reinou em Siracusa, atual Sicília,
na Itália, o tirano Dionísio. Cansado da inveja que Dâmocles tinha de seu
poder, o rei ofereceu-lhe um banquete para que o invejoso pudesse comer e beber
à vontade , cercado de belas cortesãs.
Mas, presa ao teto por apenas um fio de rabo de cavalo, a espada de
Dionísio pairava sobre a cabeça de Dâmocles. O invejoso olhou para cima e
abandonou o recinto, sem degustar os prazeres ensejados pelo poder interino.
O episódio lendário tem sido lembrado desde Cícero, célebre político
e orador da Roma antiga, para designar os perigos e as ameaças inerentes a quem
detém o poder. Ele mesmo morreu assassinado, tendo o vencedor, o general Marco
Antônio, pendurado as mãos e a cabeça do vencido no Fórum Romano.
(*) Deonísio da Silva é professor, escritor e etimologista
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