quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

QUASE HISTÓRIAS: O ANALFABETO

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-- Ernestina, eu morro de pena do meu patrão. Homem esquisito, mas bom. É educado, paga direitinho, mas nunca gargalha. Coitado. Só come coisa que não presta. Naquela casa, não tem pé nem pescoço de galinha. Tripa de porco nem pensar. Ele e a mulher só comem coisas “daite”. Que nojo! Mas o pior não é isso. Por volta de meio-dia, ele volta para casa, gosta de almoçar na hora certa. Nesse ponto, ele é chato. Não tolera atrasos. Depois, passa o dia lendo. Na tal da biblioteca, tem um mundaréu de livros. Se vendesse aquilo por quilo, faria bom dinheiro. A patroa me disse que ele sempre foi assim, que é homem de grande cultura e não sei mais o quê. Mentira. A coitada se ilude, já percebi. Ele passa o dia lendo e anotando. Anota tudo. Mas a letra dele é um horror, pior que a minha. Impossível entender uma desgraça daquelas, garranchos. Pior ainda: quando consigo ler o que escreve, vejo que usa palavras que não existem, coisas da cabeça dele. Coitado. É esforçado, mas burro. Com trinta e cinco anos, aprendi a ler e a escrever. Em seis meses! Ele continua tentando. (OS- 2015  - atualizado em agosto de 2018)

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