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-- Ernestina,
eu morro de pena do meu patrão. Homem esquisito, mas bom. É educado, paga
direitinho, mas nunca gargalha. Coitado. Só come coisa que não presta. Naquela
casa, não tem pé nem pescoço de galinha. Tripa de porco nem pensar. Ele e a
mulher só comem coisas “daite”. Que nojo! Mas o pior não é isso. Por volta de
meio-dia, ele volta para casa, gosta de almoçar na hora certa. Nesse ponto, ele
é chato. Não tolera atrasos. Depois, passa o dia lendo. Na tal da biblioteca,
tem um mundaréu de livros. Se vendesse aquilo por quilo, faria bom dinheiro. A
patroa me disse que ele sempre foi assim, que é homem de grande cultura e não
sei mais o quê. Mentira. A coitada se ilude, já percebi. Ele passa o dia lendo e
anotando. Anota tudo. Mas a letra dele é um horror, pior que a minha. Impossível
entender uma desgraça daquelas, garranchos. Pior ainda: quando consigo ler o
que escreve, vejo que usa palavras que não existem, coisas da cabeça dele. Coitado.
É esforçado, mas burro. Com trinta e cinco anos, aprendi a ler e a escrever. Em
seis meses! Ele continua tentando. (OS- 2015 - atualizado em agosto de 2018)
Muito bom! Cada um vê a vida através do prisma de sua realidade!
ResponderExcluirVerdade, Vólia. Obrigado por passar por aqui.
ExcluirAdorei!!
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