TAXAS + IMPOSTOS + CONTRIBUIÇÕES = UFA (IMAGEM: GOOGLE) |
UM CHOPE PARA PAGAR AS JOIAS
Ao aumentar impostos para tapar rombos, Alerj e governo do Rio
mandam ao contribuinte conta que inclui roubalheira
POR CARLOS ALBERTO SARDENBERG
O GLOBO – 15/12/2016
Tarde bonita, fim de expediente, você se acomoda numa mesa de frente
para o mar de Copacabana e pede um chope. Pronto, você está colaborando para
financiar as joias do Sérgio Cabral. E, a partir de março, vai dar uma
colaboração extra, pois a Assembleia Legislativa do Rio aprovou um aumento do
ICMS sobre cerveja e chope.
Simples assim. Parte do rombo nas contas do governo fluminense vem
da corrupção. O faturamento extra de uma obra — para financiar a propina — é
custo, despesa adicional, gasto que virou dívida. Ao aumentar impostos para
tapar os rombos, o governo do Rio e a Alerj estão mandando para o contribuinte
a conta que inclui a roubalheira.
Consolo: não é todo seu chope que financia as farras da turma de
Cabral, apenas, digamos, uns 10%, talvez menos. Na verdade, não se sabe
exatamente, pois ainda não se conseguiu medir o peso da corrupção no déficit
público.
Mas a conta está lá, com o gole extra do último aumento de alíquota
para vários itens. Ligou o ar-condicionado? Está financiando a boa vida dos
políticos que se locupletaram. Botou gasolina, mais uma contribuição. Fumou um
cigarrinho, outro tanto.
Com um toque de suprema ironia dos governantes e legisladores. Do
que você paga no cigarro, na gasolina e no telefone, entre 2% e 4% vão para o
Fundo de Combate à... Pobreza.
O que será que entendem por combate à pobreza? Deve ser arranjar
dinheiro para passar das bijuterias do Saara para as joias da H. Stern e
Antonio Bernardo.
Até algum tempo, dizia-se que corrupção era mais um problema ético
do que econômico. Um modo de dizer que o montante da roubalheira era pequeno,
quase desprezível, diante do volume das contas públicas. O processo iniciado
pela Lava-Jato mostra que não é bem assim.
Considerem os casos do noticiário dos últimos dias. O presidente da
Câmara de Vereadores de Ribeirão Preto, Walter Gomes, foi preso, acusado, entre
outros delitos, de participar de um esquema para contratar funcionários para a
prefeitura.
Despesa com pessoal, portanto. Duplo aumento: primeiro, no número de
funcionários; segundo, na elevação dos salários porque parcela destes ia para
quem havia arranjado o emprego.
Não se pode imaginar que só lá em Ribeirão Preto tiveram essa ideia.
Não por coincidência, o principal problema dos municípios está justamente no
aumento da despesa com pessoal. De 2001 a 2014, dobrou o número de funcionários
das prefeituras brasileiras. Isso mesmo, dobrou.
Claro, não pode ser tudo contratação fraudulenta. Na verdade, a
maior parte deve ser correta, gente empregada para prestar serviços. Mas está
claro também que a fraude é maior do que se imaginava há pouco tempo.
Antigamente, a corrupção era só nas obras. Agora parece espalhada por
todo o setor público, inclusive nos órgãos encarregados de zelar pelas contas e
serviços, como as agências (des)reguladoras e os tribunais.
E assim chegamos à emenda constitucional que fixou um teto para as
despesas públicas, aprovada em caráter definitivo na última terça. Gente, foi
histórico. Há décadas que o gasto público tem aumento real todos os anos. O
governo pagou isso tomando dinheiro emprestado, para gerar uma dívida enorme, e
cobrando impostos.
E a Alerj acha pouco. Com o aumento do ICMS, ficou assim: de cada
cinco chopes que você tomar, um vai para o governo.
CORRUPTOS TAMBÉM TOMAM ÀS NOSSAS CUSTAS |
Ainda bem que o teto de gastos passou no nível federal. Dali
certamente vai para os estados. Estes precisam de ajuda do governo federal, que
a está condicionando ao ajuste fiscal regional, inclusive com o teto de gastos.
Esse limite impõe uma mudança na gestão pública. Até aqui a regra
era gastar primeiro e arranjar o dinheiro depois, sempre tomando do distinto
público.
Agora, para aumentar o gasto num setor, será preciso cortar em outro.
Querem gastar mais com saúde? Tudo bem. Tira de onde? Isso vai obrigar o
pessoal da Saúde a explicar direitinho onde gastou, como gastou e qual o
resultado obtido. Vai ficar claro para todos algo que os especialistas já
detectaram: não há relação direta entre o volume de dinheiro aplicado e os
resultados. Há estados que pagam os melhores salários a professores, e seus
alunos tiram as piores notas.
Está em curso uma mudança cultural na administração pública. Envolve
também as pessoas, os cidadãos acostumados a demandar tudo do governo. Não vai
ser fácil. Temos visto manifestações contra o teto de gastos, portanto, por
mais gastos, e contra o aumento de impostos.
Ou muda isso, ou vamos ter que tomar mais uns chopinhos para ajudar
o pessoal.
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