IMAGEM: ARQUIVO GOOGLE |
DILMA FOI NOCAUTEADA
PELO JORNALISMO INDEPENDENTE
A entrevista da ex-presidente à Al-Jazeera
reprisou aquele Brasil versus Alemanha
POR AUGUSTO NUNES
BLOG DO AUGUSTO
19/12/2016 | 19h56
No melhor momento da entrevista concedida a Mehdi Hasan, da TV
Al-Jazeera, Dilma Rousseff foi finalmente confrontada com a obviedade que está
há alguns anos na ponta da língua dos jornalistas independentes. “Alguns dizem
que ou você sabia o que estava acontecendo, o que a tornaria cúmplice, ou não
sabia de nada, o que te faria uma incompetente”, constatou o repórter, que em
seguida quis saber “qual das duas versões era a correta”. Perfeito. Como repete
esta coluna desde o começo dos estrondos da Operação Lava Jato, ou Dilma agiu
como comparsa ou o Brasil foi governado durante cinco anos por uma inepta sem
cura. Não há uma terceira opção.
Tanto não há que a entrevistada ficou mais encalacrada ainda ao
caçar argumentos sem pé nem cabeça. “Meu querido, esta é o tipo da escolha de
Sofia, que eu não entro nela. Porque não é isso que acontece. Há uma diferença,
e há no mundo inteiro, entre um conselho e uma diretoria executiva. Nem todos
os membros da diretoria sabiam que aqueles diretores da Petrobras estavam
fazendo… é… tinham mecanismos de corrupção e estavam se enriquecendo de outra…
de forma indevida”. Fim do vídeo. Está explicado por que o poste de terninho,
desde o primeiro dia no Palácio do Planalto, fugiu de entrevistadores sem medo
de cara feia como o diabo foge da cruz ou Lula foge de Sérgio Moro.
Ela passou mais de cinco anos driblando jornalistas de verdade
alegando “problemas na agenda” que nunca apareciam quando a entrevista era
solicitada por blogueiros estatizados, colunistas sabujos, humoristas a favor e
repórteres que se impressionavam até com a leitora voraz que esquecia o título
e o autor da obra que jurava ter acabado de ler na véspera. Talvez por imaginar
que a Al-Jazeera é uma TV palestina (e portanto amiga), a governante aposentada
pelo povo protagonizou o desastre parcialmente exposto na gravação acima.
“Você não nega que existiu um escândalo de três bilhões de dólares
na Petrobras, que havia corrupção em massa envolvendo a Petrobras, você,
claramente, não nega isso”, parte para o ataque o jornalista. “No”, balbucia a
carranca levada às cordas pela frase seguinte: “E você nega que integrantes do
PT, incluindo o tesoureiro, seu marqueteiro e seu chefe de gabinete, estiveram
envolvidos nisso? Dilma capricha na pose de quem prepara um pito daqueles que
aterrorizavam Guido Mantega e ergue a voz: “Enquanto não ‘julgares’, enquanto
não julgarem, eu não vou julgar. Não é meu papel aqui julgar ninguém, porque eu
não vou dizer e não vou…”
O jornalista fecha o cerco e o duelo vira um Brasil e Alemanha:
— Mesmo pessoas que foram presas e julgadas, como o tesoureiro do
PT? — entra na pequena área o artilheiro alemão.
— Eu não vou dizer…
— Você não vai comentar?
— Não, eu não…
— Você não tem vergonha do afundamento do PT?”
— Não é essa a questão!
— Você não nega que existiu um escândalo na Petrobras.
— Não nego.
— Alguns dizem que, dado o cargo que a você ocupou por um longo
período e, depois, como presidente…
— Que eu devia saber?
Foi a deixa para a consumação do nocaute impiedoso relatado no
primeiro parágrafo. Ainda grogue, a entrevistada não abriu a boca sobre o
fiasco incomparável. Permanecem desconhecidos os efeitos da pancadaria sobre o
neurônio solitário. Dependendo dos danos, nem Dilma vai saber se foi
cumplicidade, se foi incompetência ou se foi a soma dos dois defeitos de
fabricação.
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