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PÓS-ITÁLIA E PRÉ-BRASIL
Hoje a Itália tem o maior índice de corrupção e o pior
desempenho econômico, com o PIB no nível de 2000
POR NELSON MOTTA
O GLOBO – 16/12/2016 | 14h05
Depois do fracasso da Operação Mãos Limpas na Itália, derrotada por
novas leis que facilitavam a prescrição de crimes e a absolvição de corruptos,
o “não-político” Berlusconi se tornou o capo de novas alianças com velhos
adversários, também ameaçados, que se uniram para “salvar a economia devastada
pela Mãos Limpas”, ou seja, para enquadrar o Judiciário e salvar a pele,
voltando ao poder com mais força do que antes.
Em 1994, cansados da crise e da recessão, os italianos aceitaram
que, sem corrupção, não há crescimento econômico. Resultado: hoje a Itália tem
o maior índice de corrupção do Primeiro Mundo, e o pior desempenho econômico,
com o PIB estagnado no nível do ano 2000.
Os dados das pesquisas italianas citados pela economista Maria
Cristina Pinotti falam alto e gesticulam muito:
Só 25% dos italianos consideram o seu Judiciário independente,
contra 54% dos franceses e 69% dos alemães. Para 42% dos italianos, os juízes
aceitam pressões políticas, contra 29% dos franceses e só 14% dos alemães. Na
Itália, um processo de primeira instância leva em média 577 dias para ser
julgado, contra 322 na França e 189 na Alemanha.
No Brasil, juízes de primeira instância são heróis anônimos, que
enfrentam concursos duríssimos e são diferentes das castas que ocupam os
tribunais superiores, em que a nomeação também depende de apoio político,
estabelecendo privilégios e relações perigosas, que agora estão em choque e em
xeque.
Fustigado pela PGR e a Lava-Jato, o Senado rompeu o pacto de
cumplicidade com o Judiciário VIP e aprovou leis duras e justas sobre o teto
salarial constitucional, atingindo os marajás dos Três Poderes, como exigem a
Constituição e a sociedade que paga a conta.
Coibir o abuso de autoridade não pode ser só uma vingança de Renan,
precisa ser discutido com serenidade e punido com regras claras, que não
permitam interpretações em que os bandidos julguem os xerifes por cumprirem a
lei.
Pós-Itália não é só um codinome na planilha de propinas da
Odebrecht, é um aviso: o desastre italiano mostrou que não é a Justiça que
prejudica a economia, mas a corrupção institucionalizada.
Nelson Motta é jornalista
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