A sociedade amorfa morreu, segundo Villa (Foto: DCI) |
CRISE, TENSÃO E SUPERAÇÃO
Agora vivemos um novo momento: a sociedade civil organizada
e mobilizada, rompendo a tradição de passividade.
A sociedade amorfa morreu. E esse é mais um complicador:
a velha elite não dialoga com as ruas
POR MARCO ANTONIO VILLA
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09/12/2016 | 18h
A crise política se aprofunda. E nada indica que haverá uma solução
no curto prazo. Não é apenas – o que já seria grave – um abalo institucional. É
mais: há uma crise geral da República. Não é possível prever como e quando
poderá ser retomada a estabilidade política, indispensável para gerar um
ambiente positivo no campo econômico. E sem crescimento econômico, a tensão
política aumenta – e com reflexos diretos no campo social. As ruas deram mais
uma vez um claro recado: rejeitam conciliação pelo alto, enxovalhando os
valores republicanos. Não há mais possibilidade, como o ocorrido tantas vezes
na nossa história, da elite político-econômica encontrar uma saída que repactue
um novo bloco do poder sem que ocorra uma real transformação do Estado e de
suas instituições.
Agora vivemos um novo momento: a sociedade civil organizada e
mobilizada, rompendo a tradição de passividade. A sociedade amorfa morreu. E
esse é mais um complicador: a velha elite não dialoga com as ruas. Não aceita a
vigilância cidadã. Para eles, o povo é um intruso. Política seria um negócio
exclusivo dos políticos profissionais. Ainda não compreenderam que não é mais
possível dar um passo atrás. O brasileiro bonzinho, ingênuo, de boa-fé, que
imputava os problemas nacionais à esfera divina, não mais existe. O
desinteresse pela política acabou. As redes sociais revolucionaram o pequeno
mundo da política. Hoje, uma manobra antirrepublicana – como a tentativa de
anistiar o caixa dois eleitoral – é denunciada no segundo seguinte.
E fracassa.
Vivemos um momento de ruptura. A velha ordem deu o que tinha de dar.
A República carcomida vive seus últimos momentos. Evidentemente, o processo não
se resolverá em semanas. E nem será interrompida pelo Natal ou pelo Carnaval.
Isso foi no passado distante – em 2011, 2012, na pré-história republicana…
Mas a crise não é ruim? Não gera instabilidade? Toda crise produz
tensão. A oportunidade histórica que é a de enterrarmos a velha política, o
velho Estado, a velha elite. E construirmos – não como slogan publicitário – o
novo Brasil.
Não será um processo fácil.
As forças de conservação ainda são mais fortes que as forças de
transformação. Mas, para desgosto dos reacionários, o povo gostou de ocupar as
ruas. E delas só sairá quando as mudanças se concretizarem.
Marco Antônio
Villa é historiador, escritor e comentarista da Jovem Pan e TV Cultura.
Professor da Universidade Federal de São Carlos (1993-2013) e da Universidade
Federal de Ouro Preto (1985-1993). É Bacharel (USP) e Licenciado em História
(USP), Mestre em Sociologia (USP) e Doutor em História (USP)
Somente se esqueceram que o povo cansou.
ResponderExcluirAs consequências serão uma incógnita, mas prometem ser avassaladoras.
As figurinhas carimbadas poderão preparar os pijamas, as reformas nas casas legislativas e no Senado deverão começar muito mais cedo que pudéssemos imaginar.
Seja através do voto popular e por conta da Lava Jato.
Chega de bandalheira, a sociedade cansou.