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QUE
SE VÃO TODOS!
Os
que se deixaram corromper não são culpados só por isso.
Deveriam
responder pelo crime de subverter a vontade
dos
que votaram neles. Não foram eleitos para roubar
e
muito menos para minar o regime democrático
POR
RICARDO NOBLAT
BLOG
DO NOBLAT
12/12/2016
| 03h32
A
delação da Odebrecht, que mal começou, já provoca espanto, horror e nojo. Os
atingidos por ela se dizem vítimas inocentes de infâmias e apostam que no
futuro serão absolvidos pela Justiça e redimidos pela História.
E
nós? O que falta para concluirmos que fomos governados nos últimos 14 anos por
um bando de suspeitos de corrupção, mas que seguimos governados ainda por uma
parte expressiva deles?
Digo
suspeitos porque à luz das leis é o que eles são. Mas é difícil acreditar na
inocência deles. Não só pelo volume de indícios e de provas reunidas pela
Lava-Jato e oferecidas ao exame de todos nós, como também pelo relato
circunstanciado, repleto de detalhes críveis e escabrosos, dos delatores
ouvidos até aqui, sujeitos a penas maiores se mentirem ao juiz Sérgio Moro.
O
conceito de roubo dos políticos, e dos que azeitam seu mau comportamento, é
propositalmente estreito. Roubo seria apenas receber dinheiro de propina. Não
seria roubo receber dinheiro omitido à Justiça. No caso, seria apenas um
arraigado costume.
Tampouco
seria receber dinheiro para defender os interesses daqueles que os ajudaram a
ser eleitos. É do jogo. Não é, Lula?
O
ensaio de delação de Cláudio Melo Filho, ex-diretor da Odebrecht em Brasília,
expôs as vísceras de um sistema político que apodreceu há muito tempo, mas que
resiste a ser enterrado.
Dá
conta dos gastos da empresa no valor de cerca de R$ 90 milhões com pagamentos
de propinas, caixa dois e doações legais para campanhas de 52 políticos entre
2006 e 2014.
Do
total, pelo menos R$ 17 milhões foram pagos a parlamentares em troca da
aprovação de matérias que favoreceram a Odebrecht. Melo Filho cita 14 Medidas
Provisórias aprovadas ou modificadas para se ajustar às necessidades da
construtora.
Era
a Odebrecht aplicando um dos seus mais caros princípios, o da “Confiança no ser humano, no seu potencial
e na sua vontade de se desenvolver”.
Entre
os políticos que pediram dinheiro à empresa ou que aceitaram dinheiro para
beneficiá-la, estão os presidentes da República, da Câmara e do Senado, quatro
ministros, dois ex-ministros, o líder do governo no Congresso, os líderes do
PMDB, do DEM e do PT no Senado, um senador do PP e outro do PSB, e o presidente
do PSDB, Aécio Neves. Fora Lula, Pezão e Alckmin.
Como
o presidente Michel Temer imagina reagir ao duro baque que o alcançou
pessoalmente, como também aos seus auxiliares de copa e cozinha?
Dirá
que os R$ 10 milhões doados pela Odebrecht ao PMDB pagaram despesas de sua
campanha na chapa de Dilma em 2014? Se disser, correrá o risco de ver a chapa
impugnada pela Justiça Eleitoral, o que parece possível de acontecer.
Temer
não reagirá. Estão próximas as festas do fim do ano. Janeiro é mês de férias.
Fevereiro, de carnaval. Quem sabe tudo não se acomoda até lá?
Será
um erro. Primeiro porque o verão da Lava-Jato promete ser abrasador. Segundo
porque a paciência dos brasileiros com Temer está perto do fim. Sua
popularidade despenca. Aumenta o pessimismo com a economia.
Os
que se deixaram corromper não são culpados só por isso. Deveriam responder pelo
crime de subverter a vontade dos que votaram neles. Não foram eleitos para
roubar e muito menos para minar o regime democrático.
Mas
foi o que fizeram e continuarão a fazer se não forem varridos. Essa tarefa é
nossa antes de ser da Justiça, que se acocorou diante de Renan.
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