PRA ONDE CORRER, EM QUEM ACREDITAR? |
QUEM
VAI SOBRAR?
Os
efeitos da “delação do fim do mundo” sobre o governo Temer serão pesados. Ou
Temer remonta sua equipe na tentativa de se manter no cargo, ou se arriscará
simplesmente a perdê-lo
POR
RICARDO NOBLAT
BLOG
DO NOBLAT
10/12/2016
| 04h46
A
delação dos 77 executivos da construtora Odebrecht começa a fazer por merecer a
alcunha de “delação do fim do mundo” antes mesmo do primeiro dos seus autores
ser ouvido em Curitiba.
Por
ora, o que está sendo revelado é o conteúdo do acordo de delação de um dos 77,
Cláudio Melo Filho, diretor por muitos anos da Odebrecht em Brasília.
Foi
o bastante para que o tempo fechasse de vez sobre os prédios do Congresso e do
Palácio do Planalto, provocando intensa turbulência no voo que trouxe o
presidente Michel Temer de volta do Nordeste.
Ao
longo do acordo que ocupa 82 páginas, Melo Filho compromete as mais destacadas
figuras do governo Temer, do Senado e da Câmara com o recebimento de dinheiro
não declarado à Justiça.
Sobra,
primeiro, para o próprio Temer, que teria arrancado da Odebrecht a doação de R$
10 milhões para campanhas do PMDB em 2014. Parte da doação foi em dinheiro
vivo, de caixa dois.
Sobra
para José Yunes, um dos amigos mais antigos de Temer, e agora assessor especial
dele na presidência, a quem foi entregue uma fatia do dinheiro vivo.
Sobra
para a trinca de acólitos de Temer, os ministros Eliseu Padilha, Moreira Franco
e o ex-ministro Geddel Vieira Lima. E sobra para o ministro José Serra, o
recente melhor amigo de Temer.
A
cúpula do Congresso é atingida em cheio: Rodrigo Maia, presidente da Câmara;
Renan Calheiros, presidente do Senado e Romero Jucá, líder do governo no
Senado.
E
mais os senadores Agripino Maia, Kátia Abreu, ex-ministra da Agricultura do
governo Dilma, Eunício Oliveira, abençoado por Temer para suceder Renan, Tião
Viana e Ciro Nogueira.
Na
lista dos avulsos, o ex-deputado Eduardo Cunha, figurinha carimbada; Antonio
Palocci, ex-ministros dos governos Lula e Dilma, e Jaques Wagner, ex-governador
da Bahia e ex-ministro.
Tem
gente sem partido, como é o caso de Kátia, e gente dos partidos mais
importantes da base de apoio de Temer – PMDB, PSDB, DEM e PP. O PT está dentro
(Tião Viana, vice-presidente do Senado).
O
acordo de delação de outro executivo da Odebrech, publicado pelo jornal Folha de S. Paulo, introduziu na
relação dos suspeitos de sempre o governador Geraldo Alckmin, de São Paulo.
Lula
e o filho dele, Lulinha, foram denunciados ontem à Justiça pelo Ministério
Público Federal, acusados de tráfico de influência, lavagem de dinheiro e
organização criminosa.
Nada
a ver com a delação da Odebrecht. No caso de Lula e do filho, eles teriam
embolsado uma grana preta por conta da venda ao governo brasileiro de 36 caças
suecos do modelo Gripen NG.
O
único nome de expressão nacional que parece ter ficado de fora da delação da
Odebrecht, e das demais delações conhecidas até aqui, foi o da ex-ministra do
Meio Ambiente Marina Silva.
Os
efeitos da “delação do fim do mundo” sobre o governo Temer serão pesados. Ou
Temer remonta sua equipe na tentativa de se manter no cargo, ou se arriscará
simplesmente a perdê-lo.
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