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EM BUSCA DE NÓS MESMOS
(Por Clóvis Campêlo) O
que buscam as pessoas ao se juntarem em grupos?
Talvez
um lenitivo para a solidão. Talvez. Afinal, a solidão é fera, a solidão devora.
E se ela faz nossos relógios caminharem lentos, causa descompassos em nossos
corações. Aplacar a solidão, portanto, pode ser um dos requisitos que buscamos
nos relacionamentos. Houve uma época em que a única coisa que nos interessava
era a disposição para a alegria. A natureza nos era generosa. Havia espaço,
água, areia, luz, tudo em abundância e nós tínhamos uma energia enorme para
gastar. Os amigos eram parceiros lúdicos, ainda não havia revoluções a serem
engendradas. Também não havia discriminações sociais. Ganhava respeito quem se
destacasse nas habilidades intrínsecas. Lembro de verdadeiros comandantes que
depois descambaram para a marginalidade, a exclusão. Não tiveram a sua maestria
e exuberância reconhecidas pela sociedade. Os critérios eram outros.
Houve
um outro tempo em que a constituição cósmica já não nos interessava da maneira
como se apresentava. Tínhamos planos maiores e melhores para o mundo e nos
juntávamos em grupos para subverter esse estado de coisas. Éramos conspiradores
contra tudo e contra todos. Éramos santos guerreiros e o dragão da maldade não
estava em nós, estava no mundo. O inferno eram os outros. Movidos por essas
utopias, muitos foram impiedosamente massacrados, exterminados. Sangramos
desnecessariamente sem entender que o mundo tem a sua própria lógica e que se
autotransforma, torna-se mutante quando a si mesmo interessa isso.
Um
belo dia, abandonamos todos os bandos, revolucionários ou não, e começamos a
criar filhos, plantar árvores e escrever livros. Começamos, sem perceber, a
percorrer um longo caminho para o futuro em busca da fartura e da simplicidade
do passado, onde tão pouco nos bastava e satisfazia.
E
nesse caminho de volta, de retorno à terra, ao equilíbrio edênico, reaprendemos
a arte de conhecer e conviver com novas pessoas, outros bandos de retirantes em
busca de si mesmo, da sua paz interior, do seu eu cósmico.
DEZEMBRO/2011
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Jacó
do Pandeiro, com sua falação manhosa, nutria a imaginação dos homens
que não foram ao último ensaio da escola. Alguns deles chegaram a babar:
"Pessoal:
Deolinda está demais. Ontem, ela provou a fantasia. Show de bola.
Vai
desfilar quase nua, de fio dental, peitos de fora, com purpurina nos
bicos,
penacho e nada mais, além das sandálias de saltos altíssimos."
Maravilha de texto! Parabéns, Clóvis!
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