LEMINSKI (FOTO: ARQUIVO GOOGLE) |
EPÍSTOLA
A RÉGIS
De:
Paulo Leminski
Para:
Régis Bonvicino
(*) Este poema-epístola enviado como carta por Paulo
Leminski ao poeta e amigo Régis Bonvicino integra um conjunto que, para o
último, não só confirma a ideia de dissolução de limites na poesia de Leminski,
como também mostra seu processo criativo e sua concepção de poesia.
S.l., outubro de 1977
Paulo, pequeno irmão,
da pequena cidade de Curitiba,
ilha de certeza
cercada de pequenos problemas por todos os lados,
a Régis, grande irmão,
na grande cidade de São Paulo,
cercado por um grande problema
………….
pare de se lamentar
como uma velha carpideira siciliana
esse teu medo de ter secado tua fonte de poesia
é apenas para nos deixar preocupados
eu já te disse
PARA SER POETA
TEM QUE SER MAIS QUE POETA
v. tem que ser um monte de outras coisas mais
senão da onde?
v. vai acabar fazendo literatura de literatura
v. tem que esculhambar mais
pintar mais por fora das molduras
EXISTENCIALMENTE
esculhambe-se vire-se altere dê alteração
considere a possibilidade de ir pro japão
rejeite o projeto de felicidade
q a sociedade te propõe
eu sei
v. é paulista
mas ser paulista não é tudo
rompa
fique mais irregular
seja mais inconveniente
é a linguagem que está a serviço da vida
não a vida a serviço da linguagem
a linguagem vem
sai na urina
acontece
fazer poemas não é a coisa mais importante
mas para quem faz é
e tem que ser assim
o signo é nosso destino
nossa desgraça e nossa glória
uma aranha sempre sabe
que depois desta teia
virá outra teia e outra teia e outra
uma aranha não duvida
v. vê
não há pressa: mallarmé deixou meia dúzia de coisas
augusto idem
não se importe com a frequência/ a fecundidade/ a
abundância
uma década pode esperar um bom poema
(*)
FONTE: INSTITUTO MOREIRA SALLES
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MALDITOS GATOS. POR CONTA DELES, TOMEI INJEÇÕES, NÃO GANHEI DOCES E LEVEI MUITOS TAPAS NA BUNDA. POR ORLANDO SILVEIRA
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