IMAGEM: ARQUIVO GOOGLE |
CENA 1
A
conversa tomou rumo constrangedor, para dizer o mínimo.
Do
nada, Darci começou a palpitar sobre assuntos que não eram de sua conta e sobre
os quais não fora convidado a emitir opinião:
--
João: não me leve a mal, mas acho que você anda acomodado. Olha o seu celular.
É do tempo de Noé, o patriarca. Ninguém mais usa uma porcaria dessas, pega até
mal sair com um treco desses por aí. Troco o meu duas vezes por ano. Passou da
hora de você comprar uma coisinha melhor. Mais: o seu apartamento não é ruim, é
até bonzinho, mas a localização é péssima. Para completar, você só freqüenta
espeluncas como essa em que estamos. Como é que você vai-se relacionar com
pessoas de nível melhor?
--
Darci: quem lhe disse que eu preciso de celular top de linha, de carro novo?
Quem lhe contou que eu desgosto do bairro em que moro desde que nasci e do
boteco em que tomo minha cerveja nos finais de tarde? Quem lhe disse que tenho
interesse em me relacionar, para usar expressão sua, “com pessoas de nível
melhor”? Estou preocupado em fazer bem o meu trabalho...
--
É por isso que você não vai pra frente...
--
Darci: quem lhe disse que tenho interesse em levar a vida que você leva, em
pagar o preço que você sempre pagou – e paga – só para impressionar os outros? Gosto
da vida que levo, do trabalho que faço (não trabalho pouco, ao contrário), gosto
da liberdade de que desfruto... Cada um é de um jeito, meu caro. Além do mais,
estou velho para mudar e não tenho vontade nem necessidade de mudar. Perdão
pela franqueza: foi um desprazer revê-lo após tantos anos. Boa sorte. A despesa
fica por minha conta. Tchau.
CENA 2
Aurora
estava impossível. Não se cansava de falar sobre as operações plásticas nos seios,
nádegas e cara, nem de enaltecer a cor obtida com o bronzeamento artificial. Mas
queria também ser reconhecida intelectualmente. Fazia questão de frisar que lia
meio livro por ano, há anos!
Janete
não deixou por menos:
--
Presto muita atenção no que você diz, Aurora. Você sempre me ensina muita coisa.
--
Querida: obrigado. Deixando a modéstia de lado, já imaginava.
--
Sempre faço o contrário do que você prega. Tem dado certo. (OS)
TALVEZ VOCÊ GOSTE DE LER
Sou presa fácil de vendedores. Compro qualquer coisa, pago fortuna pelo imprestável, mas não os deixo a ver jangadas, ainda mais se me fizerem o desfavor de mostrar tudo o que está encalhado na loja. Vou ser honesto: compro mais pela necessidade premente de sair dali que pela consideração que não lhes tenho... Por Orlando Silveira
http://orlandosilveira1956.blogspot.com.br/2016/12/quase-historias_9.html#comment-form
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Sou presa fácil de vendedores. Compro qualquer coisa, pago fortuna pelo imprestável, mas não os deixo a ver jangadas, ainda mais se me fizerem o desfavor de mostrar tudo o que está encalhado na loja. Vou ser honesto: compro mais pela necessidade premente de sair dali que pela consideração que não lhes tenho... Por Orlando Silveira
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Já tive algumas Darcis na minha vida, e foi sempre um desprazer conhecê-las e prazer enorme me ver livre delas!
ResponderExcluirE eu tenho uma Aurora na família.Faço o mesmo,sempre o contrário.Dá certo.
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