CABRAL, O FANFARRÃO (FOTO: GOOGLE) |
A DISTÂNCIA ENTRE O SÉRGIO CABRAL
DO CARNAVAL DE 2010 E O PRISIONEIRO
DE CURITIBA DEVE SER MEDIDA EM ANOS-LUZ
O alegre assassino da língua inglesa na Sapucaí
hoje é apenas mais um reizinho algemado
POR AUGUSTO NUNES
EM 12/12/2016 | 07:04
Decidido a escapulir da cadeia antes da chegada do verão, o
ex-governador Sérgio Cabral resolveu tapear o juiz federal Marcelo Bretas. Para
justificar mais um pedido de liberdade, seu advogado alegou que, se continuasse
engaiolado em Bangu, o cliente estaria em perigo: alojados em alas próximas,
traficantes de drogas planejavam vingar-se do famoso colega de ofício que
ousara instalar nos morros que dominavam unidades da chamada polícia
pacificadora.
Em vez do direito de ir e vir, Cabral conseguiu do juiz Bretas uma
passagem só de ida para Curitiba, onde começou a dormir sem sustos no último
sábado. Fez um mau negócio. Em Bangu desde 17 de novembro, o chefão do assalto
ao Rio desfrutava da companhia de velhos comparsas e podia consolar-se com a
proximidade da mulher, Adriana Ancelmo, instalada há dias no setor feminino do
mesmo complexo penitenciário. Na carceragem da Polícia Federal em Curitiba,
virou vizinho de cela do concorrente Eduardo Cunha e ficou mais perto do juiz
Sérgio Moro.
Geograficamente, o carioca Sérgio Cabral nem está tão longe assim da
cidade natal: por via aérea, os 676 quilômetros em linha reta que separam as
duas capitais podem ser vencidos em 51 minutos. O que agora deve ser medido em
anos-luz é a distância escavada pelas descobertas da Operação Calicute (uma
ramificação da Lava Jato) entre o prisioneiro deste dezembro e o folião à solta
que protagoniza a gravação feita há quase sete anos.
No Carnaval de 2010, Sérgio Cabral era mais que um governador a
caminho da reeleição sem sobressaltos: o que se vê e ouve no vídeo é um
reizinho do Rio. Amigão de Lula, cabo eleitoral predileto da candidata Dilma
Rousseff, saboreava a sabujice de diferentes partidos interessados em cooptar
aquilo que parecia um nome perfeito para a vice-presidência em 2014. Poucos
brasileiros imaginavam que o tesouro estadual estava na mira do governador e de
um segundo Cavendish ainda mais guloso que o corsário inglês de outros séculos.
Não faltavam motivos, portanto, para Cabral exibir a euforia de
passista de escola campeã no vídeo que o mostra em ação no camarote da Sapucaí.
Ao apresentar a cantora Madonna a candidata Dilma Rousseff, o anfitrião
assassina a língua inglesa (com requintes de selvageria) para informar que
aquela mulher ao seu lado será a primeira a presidir o Brasil. Quem não viu
precisa aproveitar imediatamente a chance de conhecer essa relíquia
audiovisual. Quem já viu vai adorar a reprise.
Sérgio Cabral anda choramingando que a falta do que fazer torna
infinito o dia na gaiola. Que tal usar o tempo que agora tem de sobra para
aprender inglês?
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