STF: EM TEMPOS DE SAPUCAÍ (FOTO: DAVID ZINGG, 1978) |
CADÊ MEU BAGULHO?
As polêmicas liminares dos ministros Marco Aurélio Mello
e Luiz Fux foram idênticas na forma, dimensão, apoio popular,
repercussão política e impacto sobre a Corte
POR RICARDO BOECHAT
ISTO É ON-LINE
16/12/2016 | 18h00
Por duas vezes, em apenas uma semana, já marcada pelo choque das
delações da Odebrecht sobre vestais do Executivo, as togas do STF rodaram como
as baianas na Sapucaí e, como estas, atraíram todos os holofotes. Em ambas, as
coincidências foram muitas; e deverão crescer, diante da enorme possibilidade
de destino comum após a apreciação do mérito da última delas pelo Pleno do
Tribunal.
As polêmicas liminares dos ministros Marco Aurélio Mello e Luiz Fux
foram idênticas na forma (decisões
monocráticas), na dimensão (impondo-se
a outro Poder), no apoio popular
(quem de boa índole não quer Renan Calheiros no ostracismo e a implementação
das Dez Medidas Contra a Corrupção?), na repercussão
política (a tal “crise institucional” vem sendo comparada ao fim do mundo)
e no impacto sobre a Corte (obrigada
a malabarismos oratórios para fazer crer que legal e justo são valores
idênticos).
Outros eventos provam a natureza univitelina dos episódios. Por
exemplo: o ministro Gilmar Mendes, que fora dos autos padece de incontinência
verbal mais própria a salões de beleza, atacou pela imprensa de forma pouco protocolar,
para dizer o mínimo, as decisões daqueles seus pares na Corte. A Mello, chamou
de maluco; a Fux, de surtado. Não, não… me desculpem. Não foram essas suas
palavras exatas. Mas, em se tratando do referido autor e de tal estilo,
certamente Sua Excelência não se ofenderá com a livre interpretação das
críticas que, de público, quis fazer. Mas a mais significativa identidade entre
os dois casos se dará no seu destino: ambos resultarão em nada. Vejam só: no
primeiro evento, Renan deixou a linha sucessória do Planalto, como se a
hipótese de sua unção à cadeira de Temer, noves fora salamaleques, figurasse no
horizonte real do país. Na mesma “sentença”, reforçando a profusão de bolhas de
sabão, o imbatível cacique alagoano foi solenemente mantido no comando do
Congresso – mas por efêmera quinzena, já que seu mandato na função expira antes
do Natal.
No segundo evento, mesmo que não seja cassada, a liminar de Fux
devolveu à origem projeto que a Câmara já havia votado e sacramentado. Ora,
recebendo de volta o filho feio, bastará aos deputados, caso desejem, engavetar
a matéria por milênios, deixando que, como tantas outras, morra de mofo. Enfim,
há algo de alucinógeno em todo esse carnaval das mais altas autoridades do
país. O chato é perceber que a onda deve ser boa, pois duradoura, mas
inacessível aos morais que pagam pela festa.
Ricardo Boechat é
apresentador do Jornal da Band e da rádio BandNews FM, colunista da revista
ISTOÉ e ganhador de três prêmios Esso.
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