Ministro Marco Aurélio Mello |
12.03.2016
MARCO AURÉLIO IRONIZA
BUSCA POR FORO PRIVILEGIADO:
“CONFIAM NO NOSSO TACO”
“Todos
confiam muito no nosso taco”, disse, com um sorriso nos lábios, o ministro
Marco Aurélio Mello, do STF, ao comentar o súbito interesse dos investigados da
Lava Jato pela chamada prerrogativa de foro. Para fugir do juiz Sérgio Moro e
da força-tarefa da Lava Jato, até Lula cogita trocar a condição de
ex-presidente da República pela de “subordinado” da sucessora que ele fabricou.
Marco
Aurélio insinua que esse tipo de manobra pode sair pela culatra. “Essa história
de acreditar muito no taco do Supremo e abrir mão da passagem do tempo, de
percorrer vários patamares do Judiciário, para corrigir eventuais erros, às
vezes não dá certo. No mensalão, por exemplo, se os detentores de foro tivessem
renunciado, o processo teria seguido para a primeira instância. Ficou no
Supremo. E tivemos as condenações.”
O
ministro explicou que, na hipótese de Lula tornar-se subordinado de Dilma, o
STF não fará nenhum juízo de valor, limitando-se a receber os inquéritos que
lhe serão remetidos. “Se acontecer, o tribunal reconhecerá o fato de ele ocupar
uma pasta no ministério. Não indagará o objetivo, embora seja evidente.”
Marco
Aurélio ainda descrê do que lê no noticiário. “Não creio que ele venha a optar
pela chefia da Casa Civil, com o deslocamento de Jaques Wagner para a pasta da
Justiça. A não ser que a presidente da República passe o bastão para ele.”
Além
de Lula, o marqueteiro João Santana e sua mulher Mônica Moura pediram que seus
inquéritos subam da escrivaninha de Sérgio Moro para a mesa do ministro Teori
Zavascki, relator da Lava Jato no STF. Alegam que a investigação envolve a
caixa registradora da campanha de Dilma Rousseff. Como a presidente dispõe do
foro privilegiado, os dois sustentam que, por conexão, o processo em que são
protagonistas deveria ser julgado no STF.
“No
petrolão, três fatores levam os investigados
a
cobiçar o crivo do STF:
a
celeridade da força-tarefa da Lava Jato,
os
rigores do juiz Moro e o fim da farra dos recursos judiciais”
No
caso de Eduardo Cunha, o procurador-geral da República Rodrigo Janot denunciou
o deputado no Supremo e requereu o desmembramento do processo, para remeter a
Curitiba, aos cuidados de Sérgio Moro, as partes que se referem à mulher de
Cunha, Claudia Cruz, e à filha do casal, Danielle Cunha. O presidente da Câmara
se insurgiu contra a pretensão de Janot. O relator Teori Zavascki ainda não se
pronunciou.
Marco
Aurélio disse que costuma votar “invariavelmente a favor do desmembramento”,
mantendo no Supremo apenas os processos dos detentores de prerrogativa de foro.
Mas reconhece que as decisões da Suprema Corte “têm variado muito e, às vezes,
admite [julgar também réus sem mandato ou função executiva] por conta da
conexão probatória.”
No
julgamento do mensalão, quando ficou clara a tendência do Supremo pela
condenação, os réus sem mandato tentaram bater em retirada. Mas o plenário do
STF indeferiu, por maioria de votos, todos os pedidos de desmembramento e envio
dos autos para a primeira instância.
No
petrolão três fatores levam os investigados a cobiçar o crivo do STF: a
celeridade da força-tarefa da Lava Jato, os rigores do juiz Moro e o fim da
farra dos recursos judiciais. Em decisão recente, o Supremo determinou que as
penas devem ser executadas a partir da confirmação das sentenças na segunda
instância do Judiciário.
No
caso de Curitiba, a segunda instância é o Tribunal Regional Federal da 4ª
região, sediado em Porto Alegre. Ali, as decisões tomadas por Sérgio Moro têm
sobrevivido a todos os recursos.
http://josiasdesouza.blogosfera.uol.com.br/
Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na “Folha de S. Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro “A História Real” (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de “Os Papéis Secretos do Exército''.
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