quarta-feira, 30 de março de 2016

COISAS DA VIDA


UM PERU INESQUECÍVEL

(Por Violante Pimentel) Antigamente, era uma tradição, que fazia parte da cultura popular nordestina, o “roubo” de galinhas, na sexta-feira da paixão. Em Nova-Cruz, as galinhas surrupiadas eram torradas, e serviam de “parede”, ou “tira-gosto”, aos cachaceiros daquela pequena cidade.

Essa “brincadeira” grosseira, detestada pelas donas de casa, era praticada por turmas de amigos, "filhinhos do papai", que faziam isso por mera diversão, ou traquinagem. Se fosse dada queixa à Polícia, não adiantava nada, pois servia de galhofa.  

"Marta Rocha", "Adalgisa Colombo", e mais uma dúzia de galinhas de estimação, todas atendendo pelos respectivos nomes, eram criadas no quintal de dona Lia, minha mãe, e tratadas na base do pirão de leite com farinha de mandioca, além do milho e outros alimentos, próprios para esse tipo de ave. Quando chegava a Semana Santa, aumentava o estresse do pessoal da casa, que tinha experiência com os costumeiros raptos de galinhas, praticados na Sexta-Feira da Paixão.

MONLULU, o peru de estimação de Iracema, uma afilhada de dona Lia, que desde menina morava na sua companhia, foi surrupiado do nosso galinheiro em Nova-Cruz, exatamente numa Sexta-Feira da Paixão. Monlulu foi levado num "kit", juntamente com três galinhas gordas e cevadas, criadas soltas no terreiro.

Ao amanhecer o sábado de Aleluia, de 1995, Iracema fez o costumeiro pirão de leite, com farinha de mandioca, e foi alimentar as aves, com o que ela chamava de "café da manhã". Ao notar a ausência de Monlulu, o peru que lhe foi dado pela mãe, dona Ana, ainda novinho, a moça desabou num choro compulsivo e chegou a passar mal.

Violante Pimentel é procuradora 
aposentada do Rio Grande do Norte

Dona Lia, a dona da casa, indignada, rogou até praga ao malfeitor desalmado que praticara tamanha maldade. Monlulu, para a devotada Iracema, era como se fosse um filho. Por isso, a moça ficou em estado de choque. Inconsolável, não podia aceitar que o dócil peru tivesse ido parar na panela de algum desalmado, e que tivesse servido de tira-gosto para os cachaceiros da vizinhança.

Essa irreparável perda fez com que Iracema permanecesse triste durante muito tempo. Todas as pessoas da casa sentiram a partida de MONLULU.  Louco por Iracema, o peru sentia ciúme dela com as outras aves e não admitia que as mesmas também fossem tratadas com carinho e atenção. Quando isso acontecia, partia para o ataque e agredia quem estivesse por perto.  Muito compenetrado, desde pequeno atendia pelo nome carinhoso de Monlulu, escolhido por Iracema, e mostrava-se feliz com a sua presença.

Na realidade, Monlulu, foi um peru inesquecível!!! 


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